Jornal Noticias de Albufeira, Outubro de
2014
O Tempo Acabará por Pintar um Quadro Irreversível.
Se chover em Albufeira, como choveu em Lisboa e na Lourinhã, no passado
dia 22 de Setembro, será uma calamidade para a população e para o comércio do
centro.
O avanço do mar já constitui um problema para o litoral e as mudanças
climáticas que se verificam acarretam risco ainda maior, para Albufeira.
O desenvolvimento urbanístico comprometeu a permeabilização dos solos e
as águas pluviais encaminham-se para a parte baixa da cidade que tem cada vez
mais dificuldade em escoar para o mar.
A principal linha de água foi estrangulada e o canal subterrâneo de
descarga deixa dúvidas quanto à sua eficácia, numa situação extrema.
Em vez deste canal, concebido há quase cem anos, devia ter sido
permitida a entrada do mar, pela Avenida 25 de Abril e Rua Cândido dos Reis até
ao ribeiro, actualmente, Avenida da Liberdade. E ser projectado quebra mares, a
nascente do Sol e Mar e a poente do Inatel, respectivamente.
Apesar de o projecto sacrificar algum casario, o Burgo teria ganho um
lençol de água, nivelado pelo mar, com capacidade para encaixar as enxurradas de
eventuais chuvas intensas.
Hoje, Albufeira tinha uma marina de rara beleza que engrandecia a marca turística
e valorizava a sua economia.
As praias, Peneco e Inatel, tinham o resguardo dos referidos quebra
mares e o assoreamento natural garantia a sua defesa contra a subida do mar.
Porém, à época do trabalho braçal, Albufeira não tinha recursos.
Já no período das máquinas e da tecnologia a apetência pelo investimento
imobiliário visou, apenas, o lucro imediato. A cidade não foi interpretada de
forma séria e tanto os executivos camarários, que se sucederam, como os
senhores da Polis não deram contributo convincente.
Apesar do elevado potencial de negócio, em função da vocação turística, e
da existência de equipamentos de carácter social, nalguns casos desajustados, a
cidade não evoluiu e descaracterizou-se.
O tempo acabará por pintar um quadro irreversível. Dentro de duas ou
três décadas, os prédios vão se degradar e, atendendo à elevada carga fiscal,
as famílias não terão capacidade financeira para as devidas reparações.
Por outro lado, a água da pluviosidade que atingir a Praça dos
Pescadores não será sumida por processo natural e as inundações vão ser uma
constante, mesmo que a rebentação do mar seja afastada, com trasfegas de areia.
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