quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O tempo acabará por pintar um quadro irreversível

    Jornal Noticias de Albufeira, Outubro de 2014

    O Tempo Acabará por Pintar um Quadro Irreversível.

    Se chover em Albufeira, como choveu em Lisboa e na Lourinhã, no passado dia 22 de Setembro, será uma calamidade para a população e para o comércio do centro.
    O avanço do mar já constitui um problema para o litoral e as mudanças climáticas que se verificam acarretam risco ainda maior, para Albufeira.
    O desenvolvimento urbanístico comprometeu a permeabilização dos solos e as águas pluviais encaminham-se para a parte baixa da cidade que tem cada vez mais dificuldade em escoar para o mar.
    A principal linha de água foi estrangulada e o canal subterrâneo de descarga deixa dúvidas quanto à sua eficácia, numa situação extrema.
    Em vez deste canal, concebido há quase cem anos, devia ter sido permitida a entrada do mar, pela Avenida 25 de Abril e Rua Cândido dos Reis até ao ribeiro, actualmente, Avenida da Liberdade. E ser projectado quebra mares, a nascente do Sol e Mar e a poente do Inatel, respectivamente.
    Apesar de o projecto sacrificar algum casario, o Burgo teria ganho um lençol de água, nivelado pelo mar, com capacidade para encaixar as enxurradas de eventuais chuvas intensas.
    Hoje, Albufeira tinha uma marina de rara beleza que engrandecia a marca turística e valorizava a sua economia.
    As praias, Peneco e Inatel, tinham o resguardo dos referidos quebra mares e o assoreamento natural garantia a sua defesa contra a subida do mar.
    Porém, à época do trabalho braçal, Albufeira não tinha recursos.
    Já no período das máquinas e da tecnologia a apetência pelo investimento imobiliário visou, apenas, o lucro imediato. A cidade não foi interpretada de forma séria e tanto os executivos camarários, que se sucederam, como os senhores da Polis não deram contributo convincente.
    Apesar do elevado potencial de negócio, em função da vocação turística, e da existência de equipamentos de carácter social, nalguns casos desajustados, a cidade não evoluiu e descaracterizou-se.  
    O tempo acabará por pintar um quadro irreversível. Dentro de duas ou três décadas, os prédios vão se degradar e, atendendo à elevada carga fiscal, as famílias não terão capacidade financeira para as devidas reparações.
    Por outro lado, a água da pluviosidade que atingir a Praça dos Pescadores não será sumida por processo natural e as inundações vão ser uma constante, mesmo que a rebentação do mar seja afastada, com trasfegas de areia.    


Henrique Coelho

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