sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O munícipe merece mais respeito

Jornal Notícias de Albufeira, 01/Set/2010


    O munícipe merece mais respeito.

    A recente mexida, no tarifário da Autarquia, terá a sua razão de ser e a legitimidade é dada pelo voto. Ainda assim, teria sido mais correcto se a respectiva deliberação fosse precedida de explicação convincente, devido ao seu impacto e à abrangência.
    Quanto à água da rede pública e aos resíduos não tenho elementos para fazer uma avaliação. Contudo, parece-me que só a falta de sensibilidade justifica as subidas elevadas que se verificaram, neste período de crise. E, a coisa não vai ficar por aqui a avaliar pelas notícias que têm sido veiculadas.
    Para as licenças de esplanadas dos estabelecimentos, localizados fora da muge, os aumentos ascenderam a 200%, enquanto nas zonas hegemónicas da cidade não houve alteração. Os estabelecimentos, agora atingidos, usam mesas e cadeiras, no exterior, com o intuito de se evidenciarem, a uma clientela que é manipulada, com dinheiro público, para marcar presença constante no centro.
    A política de animação da Autarquia não é imparcial. A sua estratégia acentua o desequilíbrio de oportunidades e as vítimas são castigadas com mais custos. Por sua vez, as associações preferem manter o silêncio, provavelmente, para não comprometer a empatia que se terá gerado.
    Qualquer observador detecta, com relativa facilidade, formas de dependência que atentam contra a liberdade de acção. E, deste modo, percebe-se o laxismo destas organizações representativas, que deviam agir em defesa dos seus associados e da economia local. Isto tem uma definição: “Promiscuidade”.
    Por outro lado, em conjuntura de crise económica, como a que se vive, a Autarquia deve dar o exemplo, em casa própria. Conter a despesa, para legitimar os sacrifícios que exige aos outros, e penso que o esteja a fazer, nalguns aspectos. Contudo, detentores de cargos políticos e funcionários continuam a ter automóveis distribuídos, para usarem a seu belo prazer.
    Sem demagogia, é vulgar ouvirem-se comentários sobre esta prática onerosa, exibicionista, arrogante, e prepotente, que não encontra paralelo em países mais ricos. Haverá, ainda, quem não entenda o trabalho das Agências de Rating, mas, já ouvi turistas alemães expressarem-se, com sentido crítico, em relação à renovação das frotas de automóveis do estado português. Veja-se o nível do descrédito a que o País já chegou, no exterior, tendo em conta este reparo vindo de fora.
    No plano político, é possível fazer emergir outra moral, baseada em valores mais credíveis, do ponto de vista democrático, se houver vontade dos partidos. Nos planos público e institucional, faltam fóruns de diálogo que promovam esclarecimento, com vista à evolução das consciências individuais e colectivas, para o direito de cidadania ser exercido, também, fora dos actos eleitorais.
    Só se consolida a democracia, se cultivarmos, todos, as práticas democráticas.


Henrique Coelho,

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