quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O Ministério da Economia resuscitou

Jornal Notícias de Albufeira, 04 Jun. 2013

    O Ministério da Economia Ressuscitou.

    Num texto que publiquei, em Dezembro de 2011, terminava dizendo que a necessidade de avaliar, diariamente, a situação líquida do país, devia ter sido motivo para emparceirar a Economia com as Finanças. Percebi que a obsessão do défice e do controlo das contas públicas acabava, mais tarde ou mais cedo,  por dar razão à máxima - “sem economia não há finanças.
    Depois dos credores externos deixarem de acreditar nos ex-governantes e do actual governo de coligação ter recebido uma herança pesada, de três décadas, mais o estrondoso desmoronamento de seis anos, impunham-se reformas adequadas. Era altura para o Executivo desdobrar-se em diplomacia política, sobretudo, junto das Instituições da União Europeia, para negociar o cumprimento da dívida, e implementar um programa interno de crescimento económico.
    O Governo não estava preparado para enfrentar a calamidade do País. Não mostrou coragem, para cortar nas gorduras da administração pública, em tempo útil, nem para ajustar contas com os malfeitores. Limitou-se a obedecer às ordens do poder financeiro internacional, via Troika, e a promover a austeridade que tem conduzido ao empobrecimento.
    A ajuda externa era indispensável, mas a receita que foi contratualizada, apesar dos sucessivos ajustes, não surtiu o efeito desejado. A dívida continua a crescer e Portugal está, hoje, num beco sem saída do ponto de vista da sua sustentabilidade económica e social. E, ao ritmo a que o desemprego se projecta isto pode descambar em desastre social.
    Agora, devido a pressões de diferentes quadrantes e à percepção dos erros cometidos, terá sido dada liberdade ao Senhor Ministro da Economia, para fazer ressuscitar a sua pasta. Contudo, o domínio continua a ser das Finanças e é notória a falta de pragmatismo, para envolver os agentes económicos, na identificação das potencialidades e na implementação das soluções.
    O Governo não pode privilegiar, apenas, as exportações. É preciso substituir importações por produção nacional, mormente, no campo alimentar.
    Com dois anos de experiência governativa, importa que o Executivo se posicione no contexto actual dos países membros e apresente ideias válidas a uma União que devia ser mais solidária. Já terá argumentos, para contrariar a disciplina orçamental, imposta pela Alemanha, e para negociar matérias da responsabilidade da Comissão Europeia.
    No plano nacional, impõe-se aliviar a carga fiscal. Era vantajoso baixar o IVA, que tinha efeito directo nos preços. O mercado interno regrediu e a subida de alguns impostos fez baixar os respectivos encaixes.
    Sendo Portugal um país turístico, cujas actividades representam mais de 10% do PIB, 14% das vendas ao exterior, e 8% do emprego nacional, o turismo não devia ser desconsiderado e maltratado.
    Refiro-me, nomeadamente, à restauração que exporta cá dentro e teria condições para dar emprego a muita gente, se as suas necessidades fossem atendidas. Diria mesmo que a Tutela tem de olhar de outra forma, para esta actividade com implantação nacional.

    Actualmente, com IVA de 23%, não tem condições para sobreviver. No contexto da operação turística está em desvantagem, relativamente aos hotéis que também servem refeições e têm a almofada do IVA de 6%, no alojamento. E, no âmbito estritamente doméstico, deixou de ser atractivo para os portugueses que perderam o poder de compra.
    A inviabilidade dos restaurantes tradicionais, após a entrada em vigor da nova taxa do IVA, está mais que comprovada, com a expressiva quantidade de falências e o elevado número de estabelecimentos que já encerrou.

      
Henrique Coelho

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