sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Euro, globalização e competitividade

Notícias de Albufeira, 15/Jul/2010

    Euro, Globalização e Competitividade.

    Com a adesão à Moeda Única, Portugal deixou de controlar as políticas, cambial e monetária. Não foi capaz de travar as importações e de equilibrar a balança comercial. Perdeu a faculdade de desvalorizar a moeda, para animar a exportação e atrair investimento externo.
    De acordo com a meta atingida, na convergência económica, cada Euro custou aos portugueses, Esc. 200$48,2.
    Com a inflação já controlada, o mercado não conteve o efeito da entrada do Euro e houve subida generalizada de preços. As cotações do petróleo, também, tiveram influência. Primeiro, o dólar forte, e depois a hegemonia das economias emergentes da Ásia e da Europa do Leste. Efectivamente, quando tudo parecia estar de feição, para o poder de compra dos portugueses estabilizar, concluiu-se que a coisa ficou cara.
    A oferta abundante, nos espaços comerciais, e a facilidade de recorrer ao crédito, contribuíram para o descontrolo financeiro de muitas famílias e para o défice externo. A incapacidade, para assumir responsabilidades financeiras, no lado da procura, não foi tida em conta e o Banco Central, na qualidade de entidade reguladora e de supervisão, não impôs regras, para as instituições de crédito segurarem as rédeas e evitarem os excessos.
    O País deixou cair a agricultura, para ascender ao lote das “Nações desenvolvidas”. Este abandono é negativo, para a biodiversidade, desertificação, e empobrece a economia nacional. Não tem de haver complexos por ser dada atenção à agricultura. Muitos dos produtos hortícolas e frutícolas, que consumimos, são produzidos noutros países mais desenvolvidos.
    Fala-se muito da especificidade da agricultura portuguesa e é pedido reforço dos fluxos financeiros. Porém, o problema tem a ver com a dimensão das explorações, métodos de produção, e com a falta de estruturas organizadas, para escoar produtos, tanto no mercado interno como para a exportação. A persistir esta situação, os fundos satisfazem a necessidade financeira dos agricultores mas não resolvem o problema económico da agricultura.
    O sector primário devia ser rentável, tal como em Espanha e na França. As alfaces e as batatas, produzidas em Portugal, tinham de ser competitivas face às mesmas espécies importadas. Os preços de venda ao público deixam antever margens confortáveis.
    A luminosidade e o clima ameno são factores determinantes, para a produção frutícola. Neste aspecto, duvido que haja, no mundo, laranjas melhores que no Algarve.
    Tendo em conta a vocação natural do Alentejo, a Barragem de Alqueva, também, devia gerar maior motivação para o regadio.
    Há muito que a Tutela devia ter colocado técnicos no terreno, para definir aptidões de solos, aconselhar emparcelamentos, e exercer pedagogia, na base de planos de informação e de formação bem concebidos.
    A atitude dos governantes, na negociação de quotas, junto da Comissão Europeia, também, devia ser mais contundente na defesa da agricultura portuguesa.

    As Caixas de Crédito Agrícola, parece estarem mais vocacionadas para o crédito à habitação, cross-selling, ou private banking, que, propriamente, interessadas em canalizar poupança, para o desenvolvimento do sector agrícola.
    O mar e a invejável zona económica exclusiva, também, mereciam outra atenção. Parte da reflexão, sobre a agricultura, encaixa-se na actividade das pescas.
    O País optou pelos serviços, porventura, forçado pela globalização que fez deslocalizar unidades fabris e criou dificuldades de competitividade. Contudo, não faz sentido que o índice do desemprego esteja tão elevado quando há, ainda, tanto por fazer.
    Falta identificar e analisar as potencialidades, a nível nacional, conjuntamente com entidades regionais e locais, incluindo as associações empresariais e as universidades, e dotar as Autarquias com meios para criarem as infra-estruturas públicas que estimulam o investimento privado.
    O turismo influencia toda a economia, fixa populações, gera emprego e, tratando-se de vector económico muito sensível, deve ser visto com cuidado. O sector consubstancia segmentos de mercado e diferentes actividades, cujo entrosamento e dinâmica natural carecem de diálogo permanente. Por outro lado, a promoção turística exige equipas de marketing, conhecedoras das características dos mercados emissores, e volume financeiro avultado, para as campanhas serem bem sucedidas.
    Era de salutar que as Autarquias se empenhassem mais, no campo estrutural, para ajudarem a dinamizar as economias dos seus territórios. A situação difícil, em que o País está mergulhado, requer o esforço de todos, mormente das entidades que podem melhorar as condições para haver empreendedorismo.



Henrique Coelho

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