Jornal
de Albufeira, Fev. 2014
O Sino Tocou a Rebate.
A liberdade
conquistada, há 40 anos, é um bem valioso que ainda perdura. Contudo, os custos de contexto foram muito elevados
e poucos anos mais tarde já o Tesouro Público
tinha as reservas
esgotadas, as contas estavam desequilibradas, e Portugal pedia ajuda externa. A dificuldade de
satisfazer pagamentos ao exterior repercutiu-se na regulamentação monetária, financeira e cambial e na
contenção do crédito. A escalada das
cotações do petróleo, a desvalorização continuada do Escudo, e a inflação, que ultrapassou os trinta por cento, provocaram
a subida generalizada e progressiva dos preços.
Com a entrada na CEE e depois da adesão
à moeda única, o
Banco Central, que deixou de
definir a política cambial, permitiu facilidades no crédito ao consumo que só podiam
acabar mal. Efectivamente, enquanto a dívida privada crescia, a economia minguava. Primeiro, devido à deslocalização de unidades industriais, e às quotas de produção, agora, menos
restritivas, a avaliar pelo incentivo para semear na varanda, e depois, com a perda do
poder de compra dos portugueses e consequente contracção do mercado interno.
Os sucessivos governos que não defenderam os interesses portugueses, na Comissão
Europeia, e não exigiram rigor interno na aplicação dos fundos, também recorreram ao crédito, desmesuradamente,
para alimentar a infernal máquina despesista da
Administração Pública. Empresas tecnicamente falidas, e outras estruturas públicas, fizeram o mesmo, com o aval do
Estado, e atribuíram prémios de desempenho aos seus gestores.
Criaram-se infra-estruturas novas, por todo o lado, algumas desnecessárias e outras
a preço de ouro, - as célebres derrapagens. Foram estabelecidos acordos, em regime project finance, (PPP), com encargos incomportáveis,
para o futuro, e celebrados contratos financeiros, (Swap), que se revelaram negligentes.
As engenharias financeiras
aperfeiçoaram-se, para “branquear a rapinagem”, e, dos “abutres à solta”, ainda há muitos a encher o papo. Oxalá o reforço
do ranking de multimilionários
portugueses não provenha deste “bando de rapinadores”.
Os abalos sucessivos culminaram num terramoto
de dimensões incontroláveis. A dívida pública evoluiu de 62,8 em 2005, para 122
por cento do PIB, em 2012, e os responsáveis por este descalabro não
foram incomodados. Alguns, andam por aí a
opinar, enquanto a factura está sendo paga por quem já não aguenta mais.
O contágio da crise do subprime e a notação de risco,
desfavorável, precipitaram a debandada dos financiadores externos e os bancos domésticos, que já detinham um volume elevado de
dívida pública, não resistiram à exigência do BCE, de reforço de garantias, para continuarem
a ir aos leilões, com o mesmo desafogo.
Na sequência da célebre reunião do
ministro das finanças, com o governador
do Banco Central e os banqueiros, o sino tocou a rebate e o ex-governo, já em gestão corrente, não teve
alternativa, senão, de pedir ajuda externa.
Na resposta, FMI, BCE e Comissão
Europeia resgataram Portugal com um empréstimo, extraordinário, em tranches, no
valor total de 78 mil milhões de euros, para o País não entrar em incumprimento.
Os bancos portugueses, salvo as excepções que são conhecidas, não tinham
o mesmo problema dos seus congéneres irlandeses e não evidenciavam activos tóxicos.
Ainda assim, tiveram de contabilizar imparidades, para regularizar os
respectivos balanços, e alienaram participações, extra core business, para reforçar a liquidez.
O volume do crédito imobiliário vencido e o grau de insolvência das empresas
criaram dificuldades que ainda persistem. Contudo, dos 12 mil milhões, que
estavam reservados, os Bancos usaram sensivelmente metade. A sua exposição bolsista
já evidenciou recuperação, ao longo de 2013, e pode dizer-se que a banca
portuguesa, com a capacidade de se regenerar, está fora do “foot print” da desgraça.
O ex-primeiro
ministro que não contava com o abrandamento dos bancos domésticos, na aquisição de
dívida soberana, e já tinha feito do PEC-IV a moção de confiança do seu governo, mas saiu-se mal no Parlamento, ainda, teve de negociar o
memorando da Troika, contra a sua vontade, antes de ir estudar para Paris, porventura, consciente dos danos que havia causado a Portugal.
Se o PEC-IV passasse, e o ex-governo não se demitisse, projectos emblemáticos
como; TGV e o novo Aeroporto, com as suas implicações, teriam continuado a sugar
recursos e, hoje, Portugal estava pior. Todavia, ao contrário do que aconteceu na
Islândia, ninguém achou que o senhor tivesse tido mau comportamento. As escutas
não foram validadas e, do
resto, todos se esqueceram rapidamente.
Hábil, a perceber a bondade
do povo, não tardou a
regressar e foi recebido, em
apoteose, pelo Canal - 1 da televisão
pública, para interferir
na política à portuguesa e influenciar os menos prudentes, quando já tínhamos
cá outro, de primeira casta, que ainda rabeia.
Henrique Coelho
Sem comentários:
Enviar um comentário