quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O resultado está à vista...

Jornal Notícias de Albufeira, 14 Fev 2013

    O Resultado Está à Vista.

    Nos últimos ciclos eleitorais, a Autarquia de Albufeira tem sido governada por maiorias do mesmo partido. Se, por um lado, estes desfechos favoreceram os protagonistas da facção vencedora, por outro, o concelho perdeu massa crítica e capacidade política nos órgãos, executivo e deliberativo, para a discussão das suas necessidades reais.
    Não houve ponderação, sobre as grandes opções de desenvolvimento, nem rigor na análise dos meios, para elaborar os orçamentos.
    Tendo em conta as restrições resultantes da crise no sector imobiliário, que devia ter sido prevista, a Autarquia não fez o ajustamento adequado. Faltou contenção da despesa e controlo orçamental.
    As oposições revelaram-se indiferentes e, raramente, mostraram discordância, publicamente, em relação à gestão implementada. Não agiram em defesa dos superiores interesses do concelho e da população.
    No plano civil, também se verificou moleza e, nalguns casos, houve lisonjeio pedante, quando, efectivamente, deveria ter havido outra atitude mais exigente, mormente, dos protagonistas das actividades económicas.
    Neste quadro cinzento, revelador da falta de diálogo esclarecedor, a todos os níveis, e de uma consciência mais sentida, sobre as necessidades do concelho, a democracia teve dificuldade, para fazer valer a sua eficácia, e o resultado está à vista, no plano autárquico e na vertente económica.
    O País vive uma grave crise económico-financeira, com repercussões sociais profundas. Contudo, se considerarmos que o turismo, ainda, é um dos redutos que gera recursos de forma abrangente, a economia do concelho podia estar a ser menos atingida, se o produto não tivesse regredido e tivessem sido criadas as condições, para a marca turística reforçar a sua imagem, nos mercados emissores tradicionais.
    O turismo é a força motora da economia do concelho. E, para este vector prosperar e distribuir rendimentos, directos e indirectos, para todas as actividades empresariais e para a população, é necessário que a Autarquia se mostre disponível, para ultrapassar barreiras burocráticas e dar o seu contributo.
    A excepção que se tornou evidente, para quem ainda não percebeu, foi o investimento de sinergias e de recursos, na carreira pública do ex-presidente da câmara.
    Sabendo que um dia deixava de ser edil, não quis perder estatuto de presidente. Em Abril de 2004, fundou a Apal, com a complacência de uma classe empresarial que devia estar consciente da especificidade da economia do concelho e propor-lhe, em alternativa, a institucionalização, na Autarquia, de um modelo para a promoção da marca “Turismo de Albufeira”, e respectivo financiamento, no respeito pelos princípios da equidade.
    Os intentos saíram gorados porque a Apal não cresceu, como alguns esperavam. Ainda assim, o ex-presidente manteve a esperança de concretizar o seu objectivo e a entrada das Juntas de Freguesia, na organização, em 2008, foi mais uma tentativa para favorecer a sua pretensão.

    O que para alguns pode parecer coisa de somenos importância, estava envolta de estratégia bem delineada. Em nenhum momento, deixou de explorar os caminhos e as vias alternativas, para garantir o seu futuro.
    “Trepou no partido. Usou Moedas do Governo e terá implorado, ao Divino da Terra, o seu refúgio na Retórica da Sonolência. Porém, a agenda não lhe permitiu manter assiduidade nos cultos e o Senhor dos Passos, ou outra Santidade ainda lúcida, ter-lhe-á cortado as vasas”.
    “Homem prevenido, desde sempre, podia ter optado pelo show-business. Mas, preferiu apelar ao seu primeiro desígnio e o turismo deu-lhe guarida”.
    “Possivelmente, para fazer ressuscitar o d’allgarve”.
    Suspendeu o mandato, em Albufeira, para ser destinado a voar mais alto, aos comandos da nave que não estava no seu plano inicial. E, pelos vistos, ainda tem a possibilidade de retornar ao cargo que ocupou.
    Veja-se como estas coisas acontecem. Na minha opinião, tanto a tutela como os órgãos democráticos de supervisão foram permissivos nesta matéria.
    Não há dúvida que soube preparar o terreno, para testar alternativas e colher os frutos da sua gestão de encher o olho. Tantas vezes, contrária aos interesses da economia local.
    Terá superado as próprias expectativas!
    Durante mais de uma década de protagonismo, à frente dos destinos da Autarquia, nem tudo foi mau. Justiça lhe seja feita. Porém, ao mesmo tempo que consolidava o seu percurso, devia ter dado outra atenção aos recursos e às necessidades do concelho, para sair pela porta grande, sem deixar ressentimento e amargo de boca aos albufeirenses.


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Henrique Coelho

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