Jornal Notícias de
Albufeira, 14 Fev 2013
O Resultado Está à Vista.
Nos últimos ciclos
eleitorais, a Autarquia de Albufeira tem sido governada por maiorias do mesmo
partido. Se, por um lado, estes desfechos favoreceram os protagonistas da
facção vencedora, por outro, o concelho perdeu massa crítica e capacidade
política nos órgãos, executivo e deliberativo, para a discussão das suas necessidades
reais.
Não houve ponderação,
sobre as grandes opções de desenvolvimento, nem rigor na análise dos meios, para
elaborar os orçamentos.
Tendo em conta
as restrições resultantes da crise no sector imobiliário, que devia ter sido prevista,
a Autarquia não fez o ajustamento adequado. Faltou contenção da despesa e controlo
orçamental.
As oposições revelaram-se
indiferentes e, raramente, mostraram discordância, publicamente, em relação à gestão
implementada. Não agiram em defesa dos superiores interesses do concelho e da
população.
No plano civil, também
se verificou moleza e, nalguns casos, houve lisonjeio pedante, quando,
efectivamente, deveria ter havido outra atitude mais exigente, mormente, dos
protagonistas das actividades económicas.
Neste quadro
cinzento, revelador da falta de diálogo esclarecedor, a todos os níveis, e de
uma consciência mais sentida, sobre as necessidades do concelho, a democracia teve
dificuldade, para fazer valer a sua eficácia, e o resultado está à vista, no
plano autárquico e na vertente económica.
O País vive uma grave
crise económico-financeira, com repercussões sociais profundas. Contudo, se
considerarmos que o turismo, ainda, é um dos redutos que gera recursos de forma
abrangente, a economia do concelho podia estar a ser menos atingida, se o
produto não tivesse regredido e tivessem sido criadas as condições, para a
marca turística reforçar a sua imagem, nos mercados emissores tradicionais.
O turismo é a
força motora da economia do concelho. E, para este vector prosperar e
distribuir rendimentos, directos e indirectos, para todas as actividades
empresariais e para a população, é necessário que a Autarquia se mostre disponível,
para ultrapassar barreiras burocráticas e dar o seu contributo.
A excepção que se
tornou evidente, para quem ainda não percebeu, foi o investimento de sinergias
e de recursos, na carreira pública do ex-presidente da câmara.
Sabendo que um
dia deixava de ser edil, não quis perder estatuto de presidente. Em Abril de
2004, fundou a Apal, com a complacência de uma classe empresarial que devia estar
consciente da especificidade da economia do concelho e propor-lhe, em
alternativa, a institucionalização, na Autarquia, de um modelo para a promoção
da marca “Turismo de Albufeira”, e respectivo financiamento, no respeito pelos
princípios da equidade.
Os intentos saíram
gorados porque a Apal não cresceu, como alguns esperavam. Ainda assim, o ex-presidente
manteve a esperança de concretizar o seu objectivo e a entrada das Juntas de
Freguesia, na organização, em 2008, foi mais uma tentativa para favorecer a sua
pretensão.
O que para
alguns pode parecer coisa de somenos importância, estava envolta de estratégia bem
delineada. Em nenhum momento, deixou de explorar os caminhos e as vias
alternativas, para garantir o seu futuro.
“Trepou no partido. Usou Moedas do Governo e
terá implorado, ao Divino da Terra, o seu refúgio na Retórica da Sonolência.
Porém, a agenda não lhe permitiu manter assiduidade nos cultos e o Senhor dos
Passos, ou outra Santidade ainda lúcida, ter-lhe-á cortado as vasas”.
“Homem prevenido, desde sempre, podia ter
optado pelo show-business. Mas, preferiu apelar ao seu primeiro desígnio e o
turismo deu-lhe guarida”.
“Possivelmente, para fazer ressuscitar o d’allgarve”.
Suspendeu o
mandato, em Albufeira, para ser destinado a voar mais alto, aos comandos da
nave que não estava no seu plano inicial. E, pelos vistos, ainda tem a
possibilidade de retornar ao cargo que ocupou.
Veja-se como
estas coisas acontecem. Na minha opinião, tanto a tutela como os órgãos
democráticos de supervisão foram permissivos nesta matéria.
Não há dúvida
que soube preparar o terreno, para testar alternativas e colher os frutos da sua
gestão de encher o olho. Tantas vezes, contrária aos interesses da economia
local.
Terá superado as
próprias expectativas!
Durante mais de
uma década de protagonismo, à frente dos destinos da Autarquia, nem tudo foi mau.
Justiça lhe seja feita. Porém, ao mesmo tempo que consolidava o seu percurso, devia
ter dado outra atenção aos recursos e às necessidades do concelho, para sair pela
porta grande, sem deixar ressentimento e amargo de boca aos albufeirenses.
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Henrique Coelho
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