sábado, 4 de outubro de 2014

O Risco da capital do turismo

Notícias de Albufeira, 01 Fev 2011

    O Risco da “Capital do Turismo”

    A construção imobiliária caiu a pico e a receita, inerente, da Autarquia, passou a ser irrisória. É altura para gerir com racionalidade e cortar no supérfluo. Ainda assim, há recursos que garantem desafogo. Nomeadamente, o encaixe de IMI será invejável, quando comparado com outros municípios, e está constantemente a subir, devido às reavaliações dos respectivos prédios, com retroactividade, nalguns casos.
    Aliás, a queda da verba inscrita, nesta rubrica do orçamento da Autarquia, para este ano, só pode dever-se a correcção, por falta de rigor na elaboração do orçamento anterior, uma vez que o parque imobiliário mantém-se e as taxas não desceram.
    Parece estar em curso uma reforma para reorganizar serviços e renomear chefias. Contudo, a particularidade da economia não terá sido considerada. Há lacunas que se agudizam, devido às repercussões da nova dinâmica no turismo, e continua a não ser interiorizado o dever público da Autarquia apoiar o “core business” do concelho de forma apropriada.
    Reitero o meu apreço pela boa vontade do Senhor Presidente da Câmara. Mas, se por um lado, verifica-se algum avanço na promoção de Albufeira, com diplomacia de conjuntura, por outro há o risco do seu consulado terminar e da “Capital do Turismo” não ter estrutura, nem meios, para alavancar este processo.
    Já se vislumbra o insólito, por não ter sido institucionalizada estrutura pública, para divulgar Albufeira, com recurso a financiamento maioritariamente privado, na base da equidade para todos os que beneficiam, directa e indirectamente, do turismo.
    Atendendo à dimensão da oferta e à abrangência das expectativas, a falta de promoção nos mercados, também devido à nova postura dos operadores tradicionais, compromete a competitividade da marca turística e tem reflexos negativos, do ponto de vista económico-financeiro, para as empresas e para as famílias do concelho.
    Quando se fala de promoção turística seria lógico pensarmos na responsabilidade da ERTA, em promover o Algarve, e da quota-parte de benefício para Albufeira. Porém, já se percebe que o buraco do governo faz reduzir, ainda mais, a dotação.
    Tal como era de esperar, operadores turísticos emblemáticos deixaram o Algarve, entre Outubro e Maio, e a primeira consequência foi o encerramento, temporário, de alguns hotéis, ao contrário de anos anteriores.
    Há dias, num voo EasyJet, Londres – Faro, presenciei apenas 25 passageiros. Estamos na época baixa. Mas, é assustador pensar no que pode acontecer, se as LowCost tiverem de reduzir a operação, por falta de apetência pelo destino.
    Albufeira já tem 1/2 século de experiência, na indústria que sustenta a sua economia. Como tal, devia ter sabido antecipar orientações, para atenuar o efeito negativo das mudanças expectáveis.
    As associações empresariais tinham o dever de aconselhar os empresários a prepararem a sua entrada estratégica, no mercado da intermediação de reservas online, numa lógica de investimento, através de empresa de capital aberto, com capacidade para crescer, optimizar meios, diversificar produtos e negociar parcerias. Fiz alusão ao assunto, em Dez. de 2005, Dez. de 2007, Nov. de 2008, Mar. de 2010 e Maio de 2010, e percebi que não havia vocação para estas reflexões.  

    É pena os anos perdidos e a arrogância que não permitiu alicerçar conceito de diálogo, em moldes adequados, para analisar e debater aspectos importantes, da vida económica do concelho, numa base profícua.
    O fórum de diálogo, que propus há quase sete anos, sob a égide de uma associação eclipsada com a Autarquia, teria ajudado a mudar atitudes e a dimensionar estrutura versátil, para conciliar a especificidade e projectar o concelho, na rota segura do desenvolvimento sustentável e na diversidade da base da sua economia.
    Em suma, diria que, se por um lado, há falta de sensibilidade, para o turismo ser tido como a única força motora da economia do concelho, por outro, as empresas já deviam ter percebido o seu interesse em se unirem, de forma producente, para valorizar e complementar as suas posições.
    Com esta especificidade, que requer a abordagem de princípios básicos e de outras questões relevantes, só o diálogo franco e aberto pode encorajar e estimular a cumplicidade, que deve existir, também, entre a Autarquia e o sector privado, para haver prosperidade económica e coesão social. 
  


Henrique Coelho

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