quarta-feira, 8 de outubro de 2014

É preciso cortar as amarras e escalar outros horizontes

    Jornal Noticias de Albufeira, Julho de 2014

   É Preciso Cortar as Amarras e Escalar Outros Horizontes.

    Apesar da situação de resgate financeiro, Albufeira tem futuro. Porém, a Autarquia deve se assumir no aspecto pedagógico e criar condições para motivar os afoitos que ainda tenham vontade de investir. Contribuir para a sustentabilidade dos negócios e constituir elo de ligação com outras entidades, públicas e privadas, para o concelho organizar-se e diversificar a base da sua economia.
    O Gabinete do Empreendedorísmo da Autarquia tarda a tornar público o seu painel de intenções e a apresentar iniciativas credíveis, com o patrocino do Senhor Presidente, para dar respostas concretas às lacunas da economia do concelho. Nestas condições, corre o risco de ser considerado peça de marketing para encher o olho.  
    No contexto nacional, o turismo já é visto como vector económico importante. Contudo, a marca Albufeira sofreu retrocesso e deixou de ser regozijo, para uma boa parte de visitantes que lhe deu nome no passado. A sua oferta excessiva é muito escrutinada e está dependente de operadores externos.
    Se a queda da competitividade interferir no rumo das lowcost pode ser fatal para o concelho e para a região.
    Em Dezembro de 2005, numa assembleia-geral da Apal, lancei repto para a criação de uma plataforma privada de reservas online, com hiper-ligações às linhas aéreas lowcost, também, para ancorar melhor estes operadores ao destino. Dos poucos associados, presentes, ninguém se interessou a aprofundar a ideia.
    Curiosamente, algum tempo mais tarde, a Booking.com tornou-se familiar e, desde então, tem vindo a ganhar quota neste mercado online. Hoje, os hoteleiros de Albufeira já lhe pagam elevadas somas pela sua intermediação.
    Por várias vezes, voltei a apresentar o assunto, publicamente, mas a ideia não surtiu efeito, tanto no lado empresarial como associativo.
    Em Dezembro de 2007, noutra assembleia-geral da mesma organização, disse, entre outras coisas, que Albufeira não soube dar condições ao Porto de Abrigo, para atrair navios cruzeiro de médio porte, o que seria lucrativo para a economia e vantajoso para a promoção da marca turística. Também esta questão, que admito ser arrojada, não despertou o interesse de ninguém.
    Curiosamente, tempos mais tarde, li num jornal nacional que Portimão ia desassorear o Rio Arade, para atracar Navios de Cruzeiro.
    Em Dezembro de 2008, noutra assembleia-geral da Apal, com o intuito de estimular mentes, apresentei uma moção, que pretendia ser colectiva, para louvar a Autarquia, na pessoa do seu presidente, pelos seus périplos por Espanha que mereceram, desde sempre, a minha concordância.
    O Senhor Presidente da Câmara reagiu bem, dizendo que se ausentava da sala, durante a votação, porque o assunto visava-o. Mas, incompreensivelmente, a moção não chegou a ser aceite, pela assembleia, para discussão. Pedi, de novo, a palavra, para mostrar a minha estupefacção, e, em alternativa, deixei uma declaração, para a acta, com o mesmo teor, na primeira pessoa.
    Curiosamente, cerca de dois meses mais tarde, li num jornal que Albufeira tinha sido galardoada, por uma organização internacional, devido ao trabalho realizado, na área da promoção turística, e que os senhores presidentes, da Câmara e da Assembleia Municipal, iam, ou tinham ido, a Espanha, receber o prémio, “New Millenium Award”, que foi atribuído.
    São, apenas, alguns exemplos de vários episódios já enunciados, no passado, mas, que, ainda hoje, merecem reflexão.
    Os poucos associados da Apal que frequentavam as assembleias-gerais, no seu imaginário de “sócios de clube influente”, liderado pelo presidente da câmara, mostravam-se, silenciosamente, alinhados com a direcção, cujos objectivos levaram à situação estranha das Juntas de Freguesia também se filiarem.
    Desde as reuniões preliminares que antecederam a sua constituição, em 2004, suspeitei das intenções dos promotores e, em nenhum momento, tive dúvidas sobre a incapacidade da organização, para cumprir o seu objectivo principal. Ainda assim, filiei-me e dei contributo nas assembleias-gerais, durante 5 anos, até decidir que não adiantava querer afinar o orfeão silenciado, cada vez, mais desenquadrado da especificidade económica do concelho. E, em Novembro de 2009, desvinculei-me da Apal, consciente de que “Albufeira Precisava de Mais”.
    Estes relatos de experiências vividas nas assembleias-gerais da organização, imprópria, que ainda perdura, têm o objectivo de precaver eventuais interessados, para o que terão de debelar, nas esferas pública e privada, se algum dia perceberem que é preciso cortar as amarras e escalar outros horizontes.
    A dependência do turismo está num grau muito elevado e o actual homem forte do sector, para a região, disse em comunicado, já faz algum tempo, que falta uma dinâmica nova. Pois bem, Albufeira continua a aguardar que a sua visão apurada, nesta vertente, venha dar-lhe o impulso que precisa, para as suas incoerências.
    Oxalá não seja mais de “allgarve” e que os recursos que dispõe sejam usados, com critério, em campanhas lá fora.



Henrique Coelho

Sem comentários:

Enviar um comentário