quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A revolta dos pardais - 2


Jornal de Albufeira, 01/Mai/2009

    A Revolta dos Pardais - II Parte

    Tendo em conta a especificidade do concelho, em que a esmagadora maioria depende, directa ou indirectamente, do turismo, o empenho da Autarquia, nas questões que facilitam a performance deste sector, tem de ser visto como contributo, importante, para a coesão económica e social.
    Nesta perspectiva há necessidade de diálogo, com vista ao esclarecimento, para se perceber o que deve ser feito, no âmbito da promoção da marca turística de Albufeira. E, é importante que se perceba o efeito das alterações verificadas nos outros níveis da estrutura da promoção turística.
    Reconheço o trabalho que tem sido desenvolvido pela Autarquia, na vertente externa, e penso que é uma questão de consenso.
    Não entendo a posição de cerca de dez sócios, da Apal, que, numa Assembleia-geral, recusaram valorizar a determinação, do Senhor Presidente da Câmara, e não mostraram interesse para equacionar a hipótese da promoção da marca turística, ainda, puder melhorar a sua eficácia.
    Por outro lado, deve haver a consciência clara de que a economia de Albufeira tem sido vítima de um imbróglio, de abusos e de atrocidades, francamente desastroso.
    A cidade teve e continua a ter pólos de atracção, que influenciam no aspecto económico. Ainda assim, os visitantes eram livres, para se dispersarem, e o turismo constituía oportunidade para todos.
    O que se vem verificando, desde há alguns anos, é uma crescente manipulação, orquestrada com dinheiro público, para concentrar multidões, nos centros hegemónicos, e, em contrapartida, criar guetos disfuncionais, que dificultam a viabilidade de muitos estabelecimentos dos quais, também, dependem famílias.
    Este processo teve início, no final da década de 80, com uma intervenção no Jardim da Meia Laranja, para realizar espectáculos, cujo fundamento está identificado. Dos protagonistas seguintes, aparentemente, desvinculados do mesmo tipo de interesses, esperava-se bom senso, para preservar e melhorar as características do coração da cidade. Mas, efectivamente, não foi o que aconteceu.
    Por falta de ideias próprias ou de assessoramento capaz, tornaram-se seguidores fiéis dos seus antecessores e reforçaram a valorização de palco de arraiais, em prejuízo do Jardim, que acabou por ser erradicado. As primeiras vítimas foram os pardais que, em cada tarde, renovavam a sua sinfonia.
    Nesta política, dita de promoção, o ruído ensurdecedor de alguns espectáculos, dispendiosos para o erário público, abafa a música dos estabelecimentos, em horário comprometedor, e pretende ser alternativa à economia local. Enquanto a chilreada dos pardais era uma dádiva melódica, que fazia reviver a natureza, sem custos nem prejuízo para ninguém.
    De facto, estamos perante uma ingerência indigna, que não teve em atenção a natureza, e pouco séria no aspecto económico, por não respeitar as regras da livre concorrência e da imparcialidade.
    Há quem lhe chame promoção local e gostava que me explicassem o que isso significa. Os valores não devem ser traídos. Não se pode confundir promoção, com intromissão, num mercado que tem o direito de ser livre.
    Em vez deste desperdício de recursos e de sinergias, desvantajoso para a economia local, era importante perceber que Albufeira ocupa um lugar cimeiro, no contexto da oferta turística do Algarve, que deve ser defendido.
    Foram cometidos erros e não houve aproveitamento, capaz, das potencialidades, para melhorar e diversificar o produto turístico, enquanto os concorrentes têm sido mais eficazes.
    É urgente investir em infra-estruturas novas e corrigir obras públicas, recentes, para contrariar o efeito de uma competição, cada vez maior, que pode pôr em risco a manutenção do lugar que a marca turística de Albufeira, ainda, ocupa.
    Tal como tenho vindo a alertar, é notória a falta de uma Associação Empresarial, de representatividade multi-sectorial, no concelho, como observatório perspicaz, para agir e cooperar, em vários domínios.
    Estou convencido que a própria Autarquia sente a necessidade de um interlocutor, hábil, para cooperar numa estratégia de desenvolvimento que sirva a realidade económica do concelho. Aliás, diálogo e debate de ideias são princípios que julgo, também, serem partilhados, pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal.
    Não há tempo a perder. A verificar-se a mudança política que prevejo, nestas eleições autárquicas, também a capital do Algarve, com condições excepcionais, vai espertar e, dentro de meia dúzia de anos, entra para este ranking.



Henrique Coelho,

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