quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A revolta dos pardais - 1

Notícias de Albufeira, 15/Out/2008

    A Revolta dos Pardais

    O Largo Eng. Duarte Pacheco foi sacrificado, com várias mutilações, em função das vontades dos diferentes protagonistas. E, finalmente, num golpe inqualificável, convertido em palco de arraiais.
    Em nenhum momento, houve respeito pelos pardais, nem lucidez para entender que a única inovação, aceitável, para este espaço, era calcetar a área, onde circulou trânsito, manter o Jardim, e recuperar o Coreto, que este ostentou no passado.
    Efectivamente, o Largo da Meia Laranja, anteriormente, enquadrado nas características da cidade, perdeu a sua dignidade e a beleza. Agora, é inóspito, durante nove meses do ano, e alvo da crítica de qualquer cidadão consciente.
    O Passeio Marginal continua a não ser seguro e está interrompido. Não foram criadas as condições, para se ligar ao Porto de Abrigo e ser o ex-líbris de Albufeira.
    Apenas o Túnel, continua intacto.
    No extremo oeste da praia está a ser edificado um ascensor, bastante necessário. Porém, a localização não é a ideal, tanto para os utentes, como na optimização do custo da infra-estrutura. No aspecto paisagístico, já lhe chamam “mamarracho”, tal como à escada rolante, que, sendo a opção, devia estar disfarçada.
    O Programa Polis não deixa sinais dignos de referência, para o futuro. Fica-se com a ideia da cidade servir de campo de treino, para estagiar recém-formados em engenharia e arquitectura.
    Em vez de obra pública duradoura, há situações que vão necessitar de manutenção e de reparações assíduas. Criou estrangulamentos, e deu um aspecto artificial à cidade, que a descaracteriza.
    Contudo, o programa Polis não é o único culpado, de tudo o que acontece de mal, em Albufeira.
    As últimas inundações, com prejuízos avultados, para alguns estabelecimentos, podem resultar de deficiências, nas obras de drenagem e respectiva capacidade das tubagens. Mas, por muitos melhoramentos que possam haver, na parte baixa da cidade, a cota não permite grande capacidade de escoamento, para o mar, com a maré-alta.
    A situação de perigo iminente, só fica resolvida se a Autarquia tiver em atenção a minha recomendação, ao Senhor Presidente, em Março de 2005, que passo a citar:
   “Com o grande aumento de construção e consequente impermeabilização dos solos passou a haver menor capacidade de absorção das águas da chuva, que correm para o centro da cidade, transformando algumas ruas em autênticos rios. Em caso de chuvadas fortes existe o perigo de inundações, que resultam em prejuízos. E a situação pode agravar-se no caso de coincidir com período de maré alta. Esta questão deve ser analisada, para que as referidas águas sejam drenadas e desviadas para o mar, antes de atingirem o centro da cidade”. Fim de citação.
    Albufeira vai ter de reinvestir, em quase todas as obras públicas, recentes, de maior visibilidade, se pretender valorizar-se e explorar, convenientemente, as suas potencialidades.
    Nestas condições, estamos perante uma forma de gerir a coisa pública que não é, com certeza, a mais vantajosa.
    Noutra vertente, as iniciativas mais mediatizadas, supostamente, para promoverem Albufeira, têm sido dirigidas a um estrato social baixo do segmento turismo de massas. Na verdade esta variante, da suposta política de promoção, não está em linha com o nível da clientela de que se fala.
    Espectáculos “à borla”, cuja qualidade dos elencos não ponho em causa, mas, na sua maioria, desligados das raízes culturais da região, pretendem constituir cartaz de animação, em horários comprometedores, e reforçar a hegemonia das zonas da cidade, para onde o público sempre afluiu.
    Manipulam uma clientela, cada vez, mais degradada, e acentuam o desequilíbrio das oportunidades, que o Turismo tem para oferecer à económica local. Há muito, que este efeito negativo se vem fazendo sentir, mormente, nos estabelecimentos fora da muge.
    A economia de Albufeira não se restringe, apenas, ao centro da cidade. E o excesso de público, que aí acorre, forçadamente, sangra a periferia e destabiliza o desempenho nos centros hegemónicos.
    Nesta perspectiva, não pode continuar a haver interferência, pela madrugada dentro, com espectáculos ruidosos que se atropelam e criam dificuldades à economia.



Henrique Coelho,

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