sábado, 4 de outubro de 2014

O porto de abrigo nasceu torto e não há quem o endireite!

Jornal Notícias de Albufeira, 15 Jul 2011

O Porto de Abrigo Nasceu Torto e não há quem o Endireite!

    Tal como previa e escrevi, num artigo publicado no passado mês de Abril, o Porto de Abrigo de Albufeira está assoreado. A minha previsão foi confirmada, posteriormente, com as declarações de pescadores, para um jornal nacional.
    Há quem diga que o seu desassoreamento é da responsabilidade da Marina. Trata-se de uma obra pública e, como tal, não faz sentido que a manutenção seja da responsabilidade de terceiros. Havia outras contrapartidas, mais interessantes, para serem consideradas, no momento da negociação.
    Apesar de tudo, só uma falta de atenção, intolerável, pode explicar o facto da operação das praias não ter contemplado a trasfega da areia daquela infra-estrutura.
Segundo, ainda, apurei do referido jornal, o molhe de fora vai ser aumentado, com curva para terra. Esta obra faz crescer a probabilidade do anteporto reter, ainda, mais areia, nos pontos susceptíveis de assoreamento. O cerro à entrada da barra que é relatado por um pescador transformar-se-á, rapidamente, em montanha.
    A curva para terra pode alisar o mar, dentro do porto de abrigo, mas um molhe à distância do Leixão dos Alhos não anula a tormenta na entrada da barra. É preciso analisar, a expansão da corrente e da massa de água, em contexto de sueste forte. A medida, a concretizar-se, alterava a estética da linha de costa e dificultava a navegação marítima, entre praias muito concorridas.
    Nesta conformidade, o meu conselho vai no sentido de reunir as pessoas entendidas na matéria e ouvir os pescadores de Albufeira, para haver um estudo sério, sobre este assunto, antes de ser encomendado o projecto que também tem custos.
    Não obstando de haver outras soluções, um molhe projectado a partir da Ponte de Fora afigura-se-me a opção mais convincente. Resolvia a segurança à entrada da barra, no imediato, e constituía o início de um plano faseado de obra, para a infra-estrutura melhorar as suas condições, no futuro, e tornar-se mais polivalente.
    O Porto de Abrigo nasceu torto e não há quem o endireite. Justifiquei-o, noutros momentos, com a discrição do que achava melhor para Albufeira, nesta vertente.
    A infra-estrutura foi considerada obra pública, e levada à conta do Estado, para aliviar o dispêndio financeiro do empreendedor da Marina. Porém, a estratégia que usou os pescadores de Albufeira e afectou as contas públicas não ajudou, sequer, a parte que julgava ficar aliviada.
    É um facto, que o Porto de Abrigo precisa de ser reabilitado, tal como outras obras, recentes, mal ponderadas. Ainda assim, a vontade do IPTM gastar dois milhões de euros, numa obra sem eficácia, que compromete ampliações futuras, só pode ser entendida, nesta altura, como o hábito de desperdiçar recursos, para engrossar o défice.
    A Troika das instituições externas, com quem Portugal se comprometeu, estará atenta à despesa pública e à atitude da respectiva supervisão. Os seus tecnocratas podem não entender de correntes marítimas e terão tido dificuldades, para salvar o náufrago. Mas, já ter-se-ão apercebido da apetência, que há neste país, para desencadear correntes de fundos, com fugas nos percursos.


Henrique Coelho

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