Jornal Notícias de
Albufeira, 15 Jul 2011
O Porto de Abrigo Nasceu Torto e não há quem o Endireite!
Tal como previa
e escrevi, num artigo publicado no passado mês de Abril, o Porto de Abrigo de
Albufeira está assoreado. A minha previsão foi confirmada, posteriormente, com as
declarações de pescadores, para um jornal nacional.
Há quem diga que
o seu desassoreamento é da responsabilidade da Marina. Trata-se de uma obra
pública e, como tal, não faz sentido que a manutenção seja da responsabilidade
de terceiros. Havia outras contrapartidas, mais interessantes, para serem
consideradas, no momento da negociação.
Apesar de tudo, só
uma falta de atenção, intolerável, pode explicar o facto da operação das praias
não ter contemplado a trasfega da areia daquela infra-estrutura.
Segundo, ainda, apurei do referido jornal, o molhe de fora
vai ser aumentado, com curva para terra. Esta obra faz crescer a probabilidade
do anteporto reter, ainda, mais areia, nos pontos susceptíveis de assoreamento.
O cerro à entrada da barra que é relatado por um pescador transformar-se-á,
rapidamente, em montanha.
A curva para
terra pode alisar o mar, dentro do porto de abrigo, mas um molhe à distância do
Leixão dos Alhos não anula a tormenta na entrada da barra. É preciso analisar,
a expansão da corrente e da massa de água, em contexto de sueste forte. A medida,
a concretizar-se, alterava a estética da linha de costa e dificultava a navegação
marítima, entre praias muito concorridas.
Nesta conformidade,
o meu conselho vai no sentido de reunir as pessoas entendidas na matéria e
ouvir os pescadores de Albufeira, para haver um estudo sério, sobre este assunto,
antes de ser encomendado o projecto que também tem custos.
Não obstando de
haver outras soluções, um molhe projectado a partir da Ponte de Fora afigura-se-me
a opção mais convincente. Resolvia a segurança à entrada da barra, no imediato,
e constituía o início de um plano faseado de obra, para a infra-estrutura melhorar
as suas condições, no futuro, e tornar-se mais polivalente.
O Porto de
Abrigo nasceu torto e não há quem o endireite. Justifiquei-o, noutros momentos,
com a discrição do que achava melhor para Albufeira, nesta vertente.
A
infra-estrutura foi considerada obra pública, e levada à conta do Estado, para
aliviar o dispêndio financeiro do empreendedor da Marina. Porém, a estratégia que
usou os pescadores de Albufeira e afectou as contas públicas não ajudou,
sequer, a parte que julgava ficar aliviada.
É um facto, que
o Porto de Abrigo precisa de ser reabilitado, tal como outras obras, recentes,
mal ponderadas. Ainda assim, a vontade do IPTM gastar dois milhões de euros,
numa obra sem eficácia, que compromete ampliações futuras, só pode ser entendida,
nesta altura, como o hábito de desperdiçar recursos, para engrossar o défice.
A Troika das
instituições externas, com quem Portugal se comprometeu, estará atenta à
despesa pública e à atitude da respectiva supervisão. Os seus tecnocratas podem
não entender de correntes marítimas e terão tido dificuldades, para salvar o
náufrago. Mas, já ter-se-ão apercebido da apetência, que há neste país, para
desencadear correntes de fundos, com fugas nos percursos.
Henrique Coelho
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