Jornal de Albufeira, 3 Dez. 2013
Ainda, O Dilema das Autárquicas.
Perdoam-me a insistência, mas das
duas, - uma. Ou estou equivocado, ou não há análise política em Albufeira. A dimensão social-democrata, no concelho, é
bastante expressiva. Contudo, a carteira de
militantes afigura-se escassa.
Durante anos, os dirigentes políticos
ocuparam-se das lides autárquicas e usaram, à sua maneira, a legitimidade das
maiorias eleitorais que obtiveram.
Acharam que não fazia falta fidelizar, simpatizantes e militantes, e prestaram
um mau serviço ao Partido.
Sobre o exercício das funções autárquicas, apenas, algumas notas do
desaforo que causou mau estar:
Desincentivaram a tradição das castanhas
assadas, na cidade, com custos exorbitantes, para quem desenvolvia a
actividade, porventura, para banir a fumaça. Por outro lado, isentaram os
artistas lúdicos de pagar pela ocupação dos espaços públicos, apenas no centro da cidade, numa atitude discriminatória e desprovida da
imparcialidade que é expectável dos órgãos autárquicos.
Aprovaram um regulamento de horários de estabelecimentos, para atingir o
ruído, sem terem percebido que a Autarquia tinha culpas nesta desordem, e, como
tal, a elaboração do respectivo documento constituiu um autêntico disparate. Consequentemente,
estimularam e ajudaram a desenvolver software caseiro, para recolher dados, via
internet, e medir os decibéis produzidos pelos bares, aparentemente, com
intuitos pidescos. Os bares já têm limitadores, de som, calibrados e selados pelos
mandatados da suposta entidade fiscalizadora, e o referido software representa desconfiança
e falta de respeito por uma classe empresarial com grande implantação no
concelho. Tenho dificuldade em entender o silêncio das associações sobre esta
matéria. Com menos tecnologia, já outros, no passado, tinham cortado o pio aos
pardais, para controlar a chilreada, na cidade, e evitar os dejectos.
Apesar de tudo, a consciência dos munícipes não se desvaneceu e a excentricidade dos eleitores deu o grito de alerta,
para a mudança que era
necessária.
Há, ainda, quem tente justificar o que aconteceu, nestas eleições autárquicas, com as adversidades
da conjuntura nacional. Atendendo ao pendor político dos profetas, este vaticínio
reveste-se de indisciplina partidária e não é aceitável, do ponto de vista da solidariedade
institucional.
Em vez de inventar culpados, os
responsáveis pelo epicentro do marasmo, já deviam ter vindo a terreiro dar
explicações, convincentes, mormente aos social-democratas que desconhecem a
morada do Partido, na cidade, ou encontram a porta fechada.
Os eleitores exprimiram, claramente,
a sua vontade e os motivos são muito fortes. Ainda assim, os visados mostram falta de
humildade política, para aceitar a perda de supremacia, e já proclamaram a sua bravura solitária, num gesto censurável do ponto de vista democrático.
É estranho que a facção mais interessada,
no consenso, não tenha feito o suficiente, para evitar crispação. Se a sua intenção
é empenhar-se, apenas, na gestão corrente e dar ordens à Polícia Municipal,
para levantar autos de contra-ordenação, de modo a manter a actividade administrativa
da Autarquia, também é lógico que algo mais aconteça, na esfera política, porque,
efectivamente, Albufeira precisava de mais.
1)
Os protagonistas não entenderam que, do lote de social-democratas descontentes; uma
parte absteve-se e a outra, sem renegar a sua ideologia política, votou VIVA, como
forma de protestar contra as práticas que quer ver alteradas.
2)
Não perceberam que, se o Movimento VIVA não tivesse
concorrido, nestas eleições, a vitória era da actual segunda
força política.
3)
Está claro
que a Dra. Ana Vidigal, consciente ou inconscientemente, salvou o PSD Albufeira da hecatombe profetizada
por muitos idealistas. Por conseguinte, há uma dívida política que tem de ser considerada.
Ao contrário da intenção
manifestada, pelo PSD Nacional, de expulsar os militantes rebeldes, … em
Albufeira, a atitude tem de ser outra.
Aqui, o enfoque deve estar na
desatenção dos dirigentes da Concelhia e na necessidade de regularizar a
referida dívida política, a contente da família social-democrata.
Se tal não se verificar, o
Partido sairá mais prejudicado, no futuro, com a consciência cada vez mais apurada
dos eleitores e com a determinação do Movimento VIVA, para libertar o concelho
da visão deturpada, a que esteve sujeito, durante muito tempo.
Por outras palavras, diria que, se os “embuçados” não retomarem a
negociação bilateral, para viabilizar o consenso que é necessário nos órgãos autárquicos, a que presidem, e continuarem
a ignorar o descontentamento no seio da família política, de que também são
oriundos, tornam-se os
únicos responsáveis, pelas repercussões
da sua atitude.
Henrique Coelho
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