sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Medidas para pagar a crise

Notícias de Albufeira, 01/Jun/2010

    Medidas para Pagar a Crise.

    A Estrutura Administrativa do Estado tem peso excessivo. Uma reforma, a sério, nesta área, resolvia as contas públicas.
    O País, com pouco mais de nove milhões de habitantes, não justifica uma Assembleia Constituinte tão povoada de deputados. O Governo tem Ministérios a mais. A governação deve ser exercida pela sua estrutura endógena na base de planeamento. Alguns Institutos Públicos, criados para agilizar procedimentos, são desnecessários e não contribuem para a transparência. Há muitos Tribunais, mas, tanto a Justiça como o controlo da Gestão Pública não têm obtido os melhores resultados.
    É necessário reordenar o território nacional e implementar processo de fusão de Autarquias. As Juntas de Freguesia são desnecessárias, mormente nos perímetros das sedes de concelho. Nos povoados mais afastados, tudo podia ser tratado por balcão avançado, online, com a municipalidade respectiva. Há muito que os Governos Civis deviam estar desactivados.
    Os automóveis de alta gama que eram evitados, com esta reforma, já representavam uma poupança significativa.
    O momento, também, é propício para os defensores da regionalização reflectirem e entenderem que a desconcentração, porventura benéfica para algumas regiões, não compensava o aumento dos custos que a medida implicava.
    O Plano de Estabilidade e Crescimento e as medidas de austeridade, adicionais, deviam ter maior incidência, no corte da despesa pública, nas pensões de reforma chorudas, nos vencimentos imorais e prémios abusivos dos gestores, e, ainda, contemplar retroactividade de IRC, às empresas que tenham tido lucros anuais, acima dos 500 mil euros, nos últimos três exercícios. Os bancos, também, deviam integrar este lote de empresas e a taxa do seu IRC teria de alinhar com as demais.
    O presidente da associação de bancos queixou-se, há dias, na televisão, da dificuldade e do custo do financiamento externo. Quando se trabalha com recursos alheios é assim. Pior, ainda, é para os clientes dos bancos, quando recorrem a crédito.
    Se os banqueiros transferissem os saldos das suas contas offshore, para a banca nacional, podiam reforçar os capitais próprios e atenuar as necessidades de financiamento. Mas, possivelmente, as offshore também participam no financiamento do País, a partir do exterior, e produzem ganhos superiores aos dividendos.
    Atendendo ao perfil desta crise financeira, e no contexto em que se verifica, a inflação não deve ser o único factor, para determinar a taxa de juro dos depósitos a prazo, que continua muito baixa. Por outro lado, os bancos não remuneram as contas à ordem, salvo raríssimas excepções. Nesta medida, a sua disponibilidade financeira, de acordo com as regras da autoridade monetária, tem custo baixo, quando comparado com as taxas de juro que são praticadas no crédito concedido. E, ainda, há os ganhos da aquisição de dívida pública.
    Os resultados que a banca apresenta são esclarecedores.
    As causas da desgraça, económica e financeira que assola o País, estão identificadas. Governação deficiente, falta de reformas, irresponsabilidade, e pouca transparência. Não houve encorajamento para o crescimento da economia e criou-se a ilusão de que os credores nunca se oporiam ao endividamento para cobrir despesa.  

    De facto, o descontrolo das contas públicas e o endividamento externo, mormente, nos últimos cinco anos, degradou a credibilidade e o País está, hoje, à beira do abismo. Perante as pressões externas, o Governo foi obrigado a tomar medidas de austeridade e, mais uma vez, a falta de racionalidade penalizou as classes, média e média-baixa que, normalmente, sustentam a economia.
    Portugal já é o país da Europa com a maior taxa de risco de pobreza e estas medidas, mal alinhavadas, vão agravar o problema. Vai haver maior abrandamento no consumo interno e a questão repercute-se na viabilidade de muitos negócios e no aumento do desemprego.
    Os portugueses observam as trapalhadas políticas e suportam os efeitos da crise económica, enquanto as Agências de Notação de Risco vão fazendo a sua análise e dando sinais aos mercados.
    Mais uma crise política, nesta altura, não era desejável. Mas, a manutenção deste Governo, associada à instabilidade dos mercados financeiros, quando o País continua a ter necessidade de financiar-se no exterior, ainda, pode resultar em maior pressão e tornar a situação insustentável.
    Em função da performance da economia, há a hipótese do Ecofin sugerir o reforço das medidas de austeridade, ou do País ter de pedir ajuda financeira, ao Fundo Monetário Internacional, com maiores consequências para as famílias e para as empresas.
    Enquanto tal não acontece e atendendo ao sentido de responsabilidade, demonstrado pelo líder do maior Partido da oposição, era vantajoso que o Governo, ainda, em funções, escutasse as propostas do Dr. Pedro Passos Coelho e revisse o seu modelo económico.



Henrique Coelho

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