Jornal Notícias de Albufeira, 01 Abr. 2010
O País
que Somos
A coisa está
mal. E a culpa não pode ser atribuída ao povo, que tem sido ludibriado e
enganado. Chegou-se ao ponto da maioria dos portugueses viver assustada com
esta democracia exploradora que recorre a todos os meios, para financiar os
seus devaneios. A população está a ficar empobrecida devido à inoperância de
governantes que endividam o País e privilegiam uma classe de autênticos “lordes”.
Recorrendo à
história recente, os militares são considerados heróis libertadores. Mas que libertação,
que fomentou o descontrolo e conduziu à ruína económica. Afinal, em nome de uma
causa nobre, resolveram a sua situação e progrediram rapidamente nas carreiras.
Hoje, são generais no activo, em clima de paz, com grandes ordenados e mordomias,
ou vivem com altas reformas e outras regalias.
Aconteceu de
tudo: nacionalizações, ocupações, reforma agrária, saneamentos, e, em nome da
revolução, os meios de produção entraram em colapso e as reservas foram
delapidadas.
Seguiu-se
uma classe de políticos e de gestores, determinada a alimentar a ilusão delirante
do povo, financiada pelo orçamento do estado, no estrito cumprimento da ética
revolucionária. Escusado será dizer que, uma das moedas mais fortes do mundo,
em 1973, não tardou a ver a sua economia ser “assistida” pelo FMI.
A reforma
agrária foi desmontada, mas faltou rigor no uso dos fundos estruturais, tanto,
no sector agrário como nas outras áreas da economia. Houve desnacionalizações e
entrega de património aos antigos donos. Com a retoma dos grupos económicos, os
políticos mostram, de novo, a sua habilidade. Passam pelos governos, colocam os
“boys” e criam empatias para
benefícios futuros.
A moeda
desvalorizou-se, continuadamente, e a inflação chegou a ser superior a 30%. Logo,
na troca do Escudo pelo Euro, os portugueses foram penalizados. A coisa só não
foi pior porque os governos do Prof. Cavaco Silva contiveram a dívida externa e
fizeram cair, substancialmente, a inflação.
Congratulo-me
com a liberdade de expressão, que é património do 25 de Abril. Mas, 36 anos
depois, tenho alguma dificuldade em contrariar os que dizem que, se não fosse a
revolução, Portugal vivia em democracia, tal como a Espanha. A descolonização teria
sido concretizada. O País pertencia à EU e tinha aderido à moeda única, em
condições de convergência mais vantajosas.
Nos últimos
dez anos, a situação agravou-se com a globalização e com as más políticas que têm
sido seguidas. A falta de competitividade e a deslocalização de unidades fabris
penalizaram a balança comercial e fizeram disparar o desemprego.
Este modelo
económico não satisfaz. As parcerias público-privadas são, tendencialmente, lesivas
para as contas públicas, ou significam divórcio parcial do estado em relação às
suas responsabilidades.
A estratégia de investimento público está desajustada
das necessidades e não há incentivo para o crescimento económico. Às
auto-estradas sem tráfego junta-se-lhes os custos de manutenção e a necessidade
de portajar as scut.
O TGV,
Lisboa – Madrid, pretende ser pretexto para atrair madrilenos, às praias da
linha do Estoril, mesmo que a passagem aérea, numa low cost, seja mais barata. O
investimento não é rentável, compromete gerações futuras, e incentiva a
deslocalização de mais centros de decisão para Espanha.
Perante a hipótese
do aeroporto da Portela esgotar a sua capacidade, o governo quer Alcochete para
plataforma intercontinental. Importa considerar o declínio de algum tráfego
aéreo no mundo e perceber que as companhias aéreas de formato low cost, em
expansão, colocam as taxas como condição para a sua operação.
Fazia
sentido escalas técnicas, para o reabastecimento de aeronaves, nalguns vôos intercontinentais,
se a capacidade de autonomia não tivesse evoluído. Mas, escalar Portugal, para
distribuir passageiros, duvido que alguma vez seja opção.
A decisão política,
destes investimentos, terá contemplado as construtoras. Até pelo facto do novo aeroporto
implicar noutra ponte sobre o Tejo.
Uma das
apostas correctas, seria olhar o mar com outra ambição. Criar plataforma de
transporte marítimo, de mercadorias, em Sines, de e para os continentes
americano e africano, com interface de ferrovia e rodovia, para escoar e abastecer
uma boa parte do território espanhol.
No
Parlamento, os deputados ensaiam quezílias, enquanto o governo move os seus “boys” e diverte-se a atirar esmola a uma
faixa considerável de dependentes, que já se tornou submissa.
Sobre os
casos mais mediáticos da actualidade, que vão apodrecer nas mãos da Justiça, já
toda a gente percebeu que a teia da promiscuidade é emblema forte dos falsos democratas
da nossa praça.
A Comissão
de Inquérito Parlamentar, criada para o caso PT / TVI, acabará por concluir a sua
avaliação política. Mas, sendo Portugal um País perverso, em que muito está
invertido, duvido que a parte dos seus membros, aparentemente tocada pelo desenvolto
instintivo de alguns inquiridos, não tenha de vir pedir desculpa pelo incómodo
destas sumidades prodígias, interessadas na defesa do “chefe”.
Henrique
Coelho
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