quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A candeia ao fundo do túnel

Jornal de Albufeira, 05 Mar 2013

    A Candeia ao Fundo do Túnel.

    Portugal já colocou dívida em mercado primário. As operações foram bem sucedidas e terão baralhado a oposição. Mas não é razão para o Governo entrar em euforia. A taxa de juro, comparativamente à do outro parceiro, (Irlanda), é elucidativa.
    As Agencias de Rating não encontrarão razões para alterar, tão cedo, as notações de risco, que atribuíram a Portugal, e não há nenhuma garantia dos investidores serem benevolentes nas operações futuras, mormente, em matéria de taxas de juro.
    A situação do País não tem melhorado. Por enquanto, alguma reorganização na estrutura do Estado, não significa muito mais que transferir custos entre sectores da administração pública.
    A dívida tem crescido e a economia contínua, numa espiral recessiva, a produzir desemprego. O único indicador favorável é o equilíbrio da balança comercial, à custa da contracção da procura interna, ausência de investimento, e exportação de preciosidades, como o ouro, que muitos portugueses já tiveram de trocar por comida. E, com a Europa, também a retrair-se, as exportações estão a baixar.
    Em vez de um plano nacional, para desenvolver potencialidades locais e regionais, tem-se assistido a falta de estímulo, nomeadamente, em relação às pequenas empresas que operam no mercado interno. Estas estruturas de negócio, muitas delas familiares, são responsáveis pela maioria do emprego deste país e têm sido vítimas do cerco apertado que já levou uma grande percentagem à falência.
    Com esta política de submissão a uma troika, bem paga pelo O.G.E. português, para defender credores e criar entraves à democracia, o Governo nivela por baixo e tem dificuldade, para tirar o País do buraco. O encaixe de impostos tem vindo a baixar e os calendários dos anos vindouros estão recheados de compromissos que terão de ser assumidos.
    Nesta conformidade, para as metas do défice serem atingidas, no futuro, vai ser necessária mais austeridade, cortes em direitos sociais, e alienação de património público de referência nacional. Mesmo assim, esta dinâmica de empobrecimento não será suficiente, para Portugal controlar as dívidas e recuperar a soberania.
    Nesta fase difícil, o País precisa de tecnocratas. Mas esta condição não devia dispensar a dedicação de políticos, patrióticos, com visão nacional e sensibilidade social.
    Se é verdade que já há uma candeia ao fundo do túnel, não é menos verdade que ainda falta a energia, para haver luz. O regozijo antecipado do Governo, pelo eventual regresso de Portugal aos mercados, para trocar e contrair mais dívida, sem resolver a questão prioritária do crescimento económico, revela incúria e falta de equidade geracional.
    O que já se tornou claro, ao fundo do túnel, para a maioria dos portugueses, é o ponto negro da pobreza.


Henrique Coelho

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