sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Causas da crise e as mudanças no turismo

Notícias de Albufeira, 01/05/2010

    Causas da Crise e Mudanças no Turismo

    O turismo representa mais de 10% do produto interno bruto e o Algarve contribui com uma parte significativa. Ainda assim, as actividades ligadas ao sector estão a viver crise vinda de trás.
    Há um mercado muito competitivo, a merecer atenção, e os investimentos anunciados para o Alentejo já deixam antever crescimento no lado da oferta. A vontade de desviar a importante competição de golfe, Ryder Cup – Edição 2018, para a Herdade da Comporta, onde não existe, ainda, um campo de golfe, já é prova disso. Refira-se que o presidente da comissão da candidatura portuguesa, para a realização deste evento, é um ex-quadro do BES e ex-ministro da economia que, na mina de sal-gema, em Loulé, aquando da edição do Prós e Contras, já evidenciava a pretensão de puxar a economia, do Algarve, para baixo.
    O surto do desenvolvimento imobiliário no Algarve é, nalguns casos, descaracterizador. Põe em risco a qualidade do turismo e torna a oferta excessiva. O aeroporto previsto para Huelva, a se concretizar, vai retirar tráfego ao aeroporto de Faro e afectar os fluxos para o Algarve. No resto do mundo, multiplicam-se os destinos e as passagens aéreas estão, cada vez, mais acessíveis, incluindo o longo curso.
    A actividade criminal já atingiu nível assustador e é necessário desincentivar os infractores. É confrangedora a movimentação de dealers, da peste que teve inicio na segunda metade do século passado, e a falta de maior persuasão dos agentes da autoridade, nesta matéria, só é entendida, por a Justiça ser inconsequente. Se não for feita pressão, para uma legislação mais punitiva, o índice da segurança tenderá a piorar e os reflexos negativos, para a região, vão ser mais evidentes.
    Quando esta publicação sair, já o vulcão islandês terá perdido o seu furor e as cinzas vulcânicas ter-se-ão dissipado. Porém, este fenómeno condicionou os espaços aéreos e afectou muitos passageiros. Os prejuízos são elevados, para a aviação civil, e vai haver danos colaterais. A relação da ocorrência com o turismo e a forma como a questão foi gerida, ainda, podem prejudicar a imagem do destino.
    No lado da procura, a globalização conduziu ao aumento do desemprego, nos mercados emissores, e a actual conjuntura económica, internacional, agrava a debilidade financeira das famílias. No aspecto cambial, a fortaleza da Moeda Única compromete a consolidação da marca Algarve, em mercados fora da zona Euro.
    A acrescentar a estas realidades, há a necessidade de interiorizar melhor as vantagens e as consequências, das tecnologias de informação e de comunicação, no turismo.
    A dinâmica, que já se configura, permite antever um conceito novo, para a operação turística. A tendência é para os operadores turísticos tradicionais perderem, gradualmente, a sua visibilidade nos destinos e deixarem cair os contratos que mantêm com as unidades hoteleiras. Desinteressam-se, naturalmente, pela promoção dos destinos e as reservas de alojamento passam a ser influenciadas por outros factores.  
Estes operadores estiveram muito activos, nas fusões e aquisições, para se posicionarem e serem competitivos. Pouco a pouco, vão assumir-se como plataformas dinâmicas, bem publicitadas, para o sector do alojamento registar-se e interagir, directamente, com os clientes que pretendam reservar estadias.

    Trata-se de mercado livre, à escala mundial, que vai exigir uma grande dinâmica, dos prestadores de serviços, e capacidade financeira dos destinos para se promoverem.
    Mas, a tecnologia que viabiliza esta mudança, também, está disponível para outros que a queiram usar. Nesta perspectiva, os industriais do ramo hoteleiro podem explorar melhor a cadeia de valor, beneficiar dos ganhos de intermediação, e ser mais competitivos, se reunirem capacidade para a sua entrada neste mercado interactivo.
    Estas questões já mereciam ter sido analisadas e discutidas. Mas, parece não haver massa crítica. O facto do Ministério da Economia e da Secretaria de Estado do Turismo não terem, ainda, apresentado um painel esclarecedor, sobre estas e outras mudanças expectáveis, não me surpreende. Enquadra-se nas limitações do governo, em termos do modelo económico, e na sua preferência pelas variedades do programa allgarve. Contudo, espanta-me que as associações empresariais, também, se mostrem alheias a estas matérias.
    Há muito que percebi as lacunas do sector, a todos os níveis, e, neste sentido, não me tenho inibido de levantar questões e de apresentar sugestões. Nomeadamente, sobre este enfoque, já em Dez. de 2005, num fórum com empresários ilustres de Albufeira, sugeri a criação de portal de informação, também, formatado para encaminhar reservas.
    Por outro lado, a falta de rigor e de visão estratégica, que é evidente, nalgumas iniciativas que podiam reforçar o produto turístico, deixam perceber o nível da exigência que tem de ser colocada, cada vez mais, aos dirigentes do concelho.
    Tendo em conta o que Albufeira representa no contexto turístico, uma estratégia de modernidade, para estar na linha da frente, aos níveis público e privado, significava capacidade, para a marca turística melhorar a sua performance, em vários aspectos, e constituía supremacia para influenciar iniciativas no plano regional.



Henrique Coelho

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