Notícias de
Albufeira, 01/05/2010
Causas da Crise e Mudanças no Turismo
O turismo
representa mais de 10% do produto interno bruto e o Algarve contribui com uma parte
significativa. Ainda assim, as actividades ligadas ao sector estão a viver crise
vinda de trás.
Há um mercado
muito competitivo, a merecer atenção, e os investimentos anunciados para o
Alentejo já deixam antever crescimento no lado da oferta. A vontade de desviar a
importante competição de golfe, Ryder Cup – Edição 2018, para a Herdade da
Comporta, onde não existe, ainda, um campo de golfe, já é prova disso.
Refira-se que o presidente da comissão da candidatura portuguesa, para a
realização deste evento, é um ex-quadro do BES e ex-ministro da economia que, na
mina de sal-gema, em Loulé, aquando da edição do Prós e Contras, já evidenciava
a pretensão de puxar a economia, do Algarve, para baixo.
O surto do desenvolvimento
imobiliário no Algarve é, nalguns casos, descaracterizador. Põe em risco a
qualidade do turismo e torna a oferta excessiva. O aeroporto previsto para Huelva,
a se concretizar, vai retirar tráfego ao aeroporto de Faro e afectar os fluxos
para o Algarve. No resto do mundo, multiplicam-se os destinos e as passagens
aéreas estão, cada vez, mais acessíveis, incluindo o longo curso.
A actividade
criminal já atingiu nível assustador e é necessário desincentivar os infractores.
É confrangedora a movimentação de dealers, da peste que teve inicio na segunda
metade do século passado, e a falta de maior persuasão dos agentes da autoridade,
nesta matéria, só é entendida, por a Justiça ser inconsequente. Se não for
feita pressão, para uma legislação mais punitiva, o índice da segurança tenderá
a piorar e os reflexos negativos, para a região, vão ser mais evidentes.
Quando esta publicação
sair, já o vulcão islandês terá perdido o seu furor e as cinzas vulcânicas
ter-se-ão dissipado. Porém, este fenómeno condicionou os espaços aéreos e afectou
muitos passageiros. Os prejuízos são elevados, para a aviação civil, e vai
haver danos colaterais. A relação da ocorrência com o turismo e a forma como a
questão foi gerida, ainda, podem prejudicar a imagem do destino.
No lado da
procura, a globalização conduziu ao aumento do desemprego, nos mercados
emissores, e a actual conjuntura económica, internacional, agrava a debilidade
financeira das famílias. No aspecto cambial, a fortaleza da Moeda Única
compromete a consolidação da marca Algarve, em mercados fora da zona Euro.
A
acrescentar a estas realidades, há
a necessidade de interiorizar melhor as vantagens e as consequências, das
tecnologias de informação e de comunicação, no turismo.
A dinâmica, que já se configura, permite antever
um conceito novo, para a operação turística. A tendência é para os operadores turísticos tradicionais perderem,
gradualmente, a sua visibilidade nos destinos e deixarem cair os contratos que
mantêm com as unidades hoteleiras. Desinteressam-se, naturalmente, pela
promoção dos destinos e as reservas de alojamento passam a ser influenciadas
por outros factores.
Estes
operadores estiveram muito activos, nas fusões e aquisições, para se posicionarem
e serem competitivos. Pouco a pouco, vão assumir-se como plataformas dinâmicas,
bem publicitadas, para o sector do alojamento registar-se e interagir,
directamente, com os clientes que pretendam reservar estadias.
Trata-se de
mercado livre, à escala mundial, que vai exigir uma grande dinâmica, dos
prestadores de serviços, e capacidade financeira dos destinos para se promoverem.
Mas, a tecnologia que viabiliza esta mudança,
também, está disponível para outros que a queiram usar. Nesta perspectiva, os industriais
do ramo hoteleiro podem explorar melhor a cadeia de valor, beneficiar dos
ganhos de intermediação, e ser mais competitivos, se reunirem capacidade para a
sua entrada neste mercado interactivo.
Estas questões
já mereciam ter sido analisadas e discutidas. Mas, parece não haver massa
crítica. O facto do Ministério da Economia e da Secretaria de Estado do Turismo
não terem, ainda, apresentado um painel esclarecedor, sobre estas e outras mudanças
expectáveis, não me surpreende. Enquadra-se nas limitações do governo, em
termos do modelo económico, e na sua preferência pelas variedades do programa
allgarve. Contudo, espanta-me que as associações empresariais, também, se
mostrem alheias a estas matérias.
Há muito que
percebi as lacunas do sector, a todos os níveis, e, neste sentido, não me tenho
inibido de levantar questões e de apresentar sugestões. Nomeadamente, sobre
este enfoque, já em Dez. de 2005, num fórum com empresários ilustres de
Albufeira, sugeri a criação de portal de informação, também, formatado para encaminhar
reservas.
Por outro lado,
a falta de rigor e de visão estratégica, que é evidente, nalgumas iniciativas
que podiam reforçar o produto turístico, deixam perceber o nível da exigência
que tem de ser colocada, cada vez mais, aos dirigentes do concelho.
Tendo em conta o
que Albufeira representa no contexto turístico, uma estratégia de modernidade,
para estar na linha da frente, aos níveis público e privado, significava capacidade,
para a marca turística melhorar a sua performance, em vários aspectos, e
constituía supremacia para influenciar iniciativas no plano regional.
Henrique
Coelho
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