quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Haja bom senso

Notícias de Albufeira, 15/Jan/2009

    Haja bom senso

    A primeira grande falta de bom senso é a fraca apetência, para haver diálogo.
    Dou como exemplo a última conferência, sobre Turismo e Desenvolvimento Local, realizada em Albufeira.
    Este evento teria tido outra importância, se não se resumisse à comunicação de dados estatísticos, por oradores contratados, e abordagens de individualidades acreditadas, que não focaram em profundidade, a importância do turismo no contexto da especificidade económica do concelho.
    De facto, houve oradores contratados a mais, e falta de perícia, para o tema ser introduzido e provocar a participação dos conferencistas, limitados à ovação.
    Não se pode dizer, que tenha sido uma perda de tempo. A intervenção, sobre “trademarks”, foi interessante. Mas, pessoalmente, tinha outras expectativas desta conferência.
    Há necessidade de expurgar intenções de “show-off”. Tal como, no pronto-a-vestir, é preferível escolher as peças que assentam melhor, em detrimento das marcas.
    Fala-se muito em turismo de qualidade, mas o que se vem verificando nos últimos anos é degradação. As classes médias, que suportavam os negócios, estão fragilizadas.
    A crise económica já está a ter repercussões no sector do turismo e a situação pode evoluir para uma dimensão insustentável. Valha-nos a descida da cotação do petróleo, que favorece os operadores aéreos “LowCost”.
    Os mercados emissores, mais expressivos do Algarve, estão em recessão e a questão cambial direcciona a procura, para fora da zona Euro.
    Se, no plano externo, as coisas não estão de feição, a situação interna é ainda pior. E, há questões, a nível da Sub-marca, como agora se designa o território turístico concelhio, a merecerem análise.
    O modelo do desenvolvimento, não tem sido o mais adequado, para preservar a qualidade da clientela.
    O surto de empreendedorísmo, anunciado, provavelmente impulsionado pela entrada em vigor de novas regras de ordenamento do território, está em contra ciclo, com o índice actual da confiança de investidores.
    Detentores de cargos públicos tentam serenar a situação e encorajam os agentes económicos, para uma atitude pró-activa, como lhes compete. Mas, são os investidores que avaliam o risco e se confrontam com maior selectividade de crédito e taxas de juro mais altas, devido à crise do sistema financeiro.
    É provável, que haja baixas. Todavia, oferta de qualidade é sempre bem-vinda. Há trinta anos atrás, teria ajudado Albufeira a afirmar-se com mais facilidade. Hoje, reforça a imagem, nalguns aspectos, mas vai provocar excessos.
    Depois de tantos reparos, sobre o exagero da construção imobiliária, continua a faltar bom senso, para evitar que o “rating”, da marca turística de Albufeira, se afunde. Veja-se a densidade, da ocupação dos solos, e o volume do betão, que se ergue, actualmente, em zonas de potencial, que não estavam degradadas.
    Obras de requalificação e modificações, na cidade, não se compatibilizaram com as características da ex-vila piscatória. A Marina e o Porto de Abrigo não produziram o efeito esperado nem são, hoje, alternativas ao cartaz turístico, que a Praia dos Pescadores foi no passado. E, a irregularidade dos passeios públicos, continua a não dar segurança às senhoras, que insistem em usar sapatos com saltos.
    Não tem havido evolução de estrutura, para potenciar melhor o produto e sustentar a actividade turística. Tem sido investido muito dinheiro em opções avulsas, que não se enquadram num plano global.
    É ridículo, e pouco abonatório, lançar slogans, como “centro histórico ou cidade velha”, com o simbolismo implícito, que confunde os visitantes. A beleza natural de Albufeira deve ser preservada, valorizada, e promovida. Mas, a velharia, que há por aí, não deixa transparecer carga histórica, para este empolamento. Inventar títulos irrealistas é perigoso e pode tornar-se contraproducente.
    De acordo com indicadores de ocupação, Albufeira está à frente no contexto do Algarve. Porém, arrisca-se a perder esta posição, perante a perspicácia de outros, que aproveitam melhor as suas potencialidades e tornam-se mais atractivos. 

Bom Ano Novo,

Henrique Coelho,


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