Notícias de Albufeira, 15/Jan/2009
Haja
bom senso
A primeira grande
falta de bom senso é a fraca apetência, para haver diálogo.
Dou como
exemplo a última conferência, sobre Turismo e Desenvolvimento Local, realizada
em Albufeira.
Este evento
teria tido outra importância, se não se resumisse à comunicação de dados
estatísticos, por oradores contratados, e abordagens de individualidades acreditadas,
que não focaram em profundidade, a importância do turismo no contexto da
especificidade económica do concelho.
De facto, houve
oradores contratados a mais, e falta de perícia, para o tema ser introduzido e
provocar a participação dos conferencistas, limitados à ovação.
Não se pode
dizer, que tenha sido uma perda de tempo. A intervenção, sobre “trademarks”, foi interessante. Mas, pessoalmente,
tinha outras expectativas desta conferência.
Há
necessidade de expurgar intenções de “show-off”.
Tal como, no pronto-a-vestir, é preferível escolher as peças que assentam melhor,
em detrimento das marcas.
Fala-se
muito em turismo de qualidade, mas o que se vem verificando nos últimos anos é
degradação. As classes médias, que suportavam os negócios, estão fragilizadas.
A crise
económica já está a ter repercussões no sector do turismo e a situação pode
evoluir para uma dimensão insustentável. Valha-nos a descida da cotação do
petróleo, que favorece os operadores aéreos “LowCost”.
Os mercados
emissores, mais expressivos do Algarve, estão em recessão e a questão cambial direcciona
a procura, para fora da zona Euro.
Se, no plano
externo, as coisas não estão de feição, a situação interna é ainda pior. E, há questões,
a nível da Sub-marca, como agora se designa o território turístico concelhio, a
merecerem análise.
O modelo do desenvolvimento, não tem sido o
mais adequado, para preservar a qualidade da clientela.
O surto de empreendedorísmo,
anunciado, provavelmente impulsionado pela entrada em vigor de novas regras de
ordenamento do território, está em contra ciclo, com o índice actual da confiança
de investidores.
Detentores
de cargos públicos tentam serenar a situação e encorajam os agentes económicos,
para uma atitude pró-activa, como lhes compete. Mas, são os investidores que avaliam
o risco e se confrontam com maior selectividade de crédito e taxas de juro mais
altas, devido à crise do sistema financeiro.
É provável,
que haja baixas. Todavia, oferta de qualidade é sempre bem-vinda. Há trinta
anos atrás, teria ajudado Albufeira a afirmar-se com mais facilidade. Hoje, reforça
a imagem, nalguns aspectos, mas vai provocar excessos.
Depois de tantos
reparos, sobre o exagero da construção imobiliária, continua a faltar bom
senso, para evitar que o “rating”, da
marca turística de Albufeira, se afunde. Veja-se a densidade, da ocupação dos
solos, e o volume do betão, que se ergue, actualmente, em zonas de potencial, que
não estavam degradadas.
Obras de
requalificação e modificações, na cidade, não se compatibilizaram com as
características da ex-vila piscatória. A Marina e o Porto de Abrigo não produziram
o efeito esperado nem são, hoje, alternativas ao cartaz turístico, que a Praia
dos Pescadores foi no passado. E, a irregularidade dos passeios públicos,
continua a não dar segurança às senhoras, que insistem em usar sapatos com
saltos.
Não tem
havido evolução de estrutura, para potenciar melhor o produto e sustentar a
actividade turística. Tem sido investido muito dinheiro em opções avulsas, que
não se enquadram num plano global.
É ridículo, e
pouco abonatório, lançar slogans, como “centro histórico ou cidade velha”, com o
simbolismo implícito, que confunde os visitantes. A beleza natural de Albufeira
deve ser preservada, valorizada, e promovida. Mas, a velharia, que há por aí,
não deixa transparecer carga histórica, para este empolamento. Inventar títulos
irrealistas é perigoso e pode tornar-se contraproducente.
De acordo
com indicadores de ocupação, Albufeira está à frente no contexto do Algarve. Porém,
arrisca-se a perder esta posição, perante a perspicácia de outros, que
aproveitam melhor as suas potencialidades e tornam-se mais atractivos.
Bom Ano Novo,
Henrique
Coelho,
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