Albufeira,
25 de Maio de 2002
Exmº.Senhor,
Presidente da Câmara Municipal de Albufeira
8200 ALBUFEIRA
Como é do
conhecimento de V.Exª., de acordo com a cópia que lhe enviei, apresentei duas
sugestões à Soc.de Desenvolvimento do Programa Polis-Albufeira.
Devo
salientar que a minha ambição, em termos do desenvolvimento que considero
necessário, para Albufeira afirmar a sua imagem nas áreas para que está
vocacionada, não se esgota naquelas duas sugestões. De qualquer modo, foram as
escolhidas em função das explicações prestadas por agente que demonstrou
convicção na veracidade da proposta técnica existente.
Senti que
a mesma convicção não foi demonstrada, pelos técnicos da proposta, na sessão
pública de ontem à noite, a que assisti.
É certo
que se trata de proposta técnica, numa fase de discussão pública, mas quando os
seus autores não a defendem, capazmente, e, pelo contrário, deixam a ideia de
que é tudo muito vago, fica-se com a noção de se estar perante uma brincadeira
que, no caso concreto, tem a ver com o futuro de Albufeira e que envolve
valores financeiros muito elevados.
Assim,
surgem dúvidas, por um lado da viabilidade de execução da proposta no caso de
passar a projecto e merecer a aprovação da Assembleia Municipal, por outro lado
dos resultados práticos caso venha a ser executada.
Entendo
que muito tem que ser feito em Albufeira, mas torna-se necessário avaliar as
repercussões das medidas aplicadas, tanto em termos do que se pretende ou não
preservar, como pelo efeito que estas produzem na sensibilidade do atingido.
Já em
1994, em carta dirigida ao Senhor Governador Civil de Faro, eu dizia que a CMA
não tinha tido o cuidado de evitar uma perda de atracção turística, com as
transferências do mercado de frutas e hortaliças e mercado do peixe, dos locais
onde se encontravam, para os Caliços.
É lógico
que a situação era insustentável mas também é verdade que em relação ao mercado
da verdura poderiam ter sido mantidas três ou quatro bancadas bonitas para
venda, durante o dia, de frutas de qualidade, flores, frutos secos da região,
bolos de figo trabalhados, etc., que à noite seriam utilizadas para artesanato.
A mesma situação poderia ter sido adoptada para o ex-mercado do peixe.
Isto faz
parte do produto turístico que temos, para apresentar aos visitantes, e que
devemos preservar a todo o custo.
Outra
situação, é o corte do trânsito no centro da cidade, que também era inevitável
e deverá ser mais alargado, mas também aqui deveriam ter havido, atempadamente,
cuidados na execução de alguns projectos, com vista a não comprometer as
hipóteses futuras de realizar obras que pudessem constituir alternativas às
mudanças operadas. Estou a referir-me à execução do colector de águas pluviais,
entre o Edifício Ribeira Park e o Eixo Viário, que no meu entender deveria ter
sido ligado, ao existente, frente ao Edifício “Petit Paris”, tendo o seu
percurso, pela estrada junto à encosta do Cerro do Malpique.
Desta maneira, poderia, em todo o espaço,
até à estação de combustível, ser construído parque de estacionamento
subterrâneo e de superfície, com significativo numero de lugares, que
funcionaria como o recepcionista dos visitantes, em vez da rotunda existente que,
provavelmente, é entendida como o cartão vermelho, com ordem de expulsão, para
quem nos quer visitar.
É
importante haver a consciência de que Albufeira é visitada por muitas pessoas,
que não conhecem a terra, e que os cortes de trânsito, nalgumas zonas, que são
compreensivos e até desejáveis, para quem conhece, implicam exactamente pelo
desconhecimento de outros, em que muita gente tenha que fazer a manobra de
retorno que, em termos da sensibilidade humana, desagrada.
Todos os
parques de estacionamento são necessários, independentemente da sua
localização. No mínimo servem os habitantes da zona e até mesmo os visitantes,
depois de estes passarem a conhecer melhor a terra. De qualquer maneira, três
boas localizações que cumpririam com dignidade as funções de recepcionistas aos
visitantes, seriam a nascente: terreno em frente à Repartição de Finanças,
circundado pela estrada de acesso ao Cerro Malpique, ao centro: largo entre a
estação de combustível e a rotunda da Avenida de Liberdade, depois de ser
deslocado o referido colector de águas, a poente: no local do parque lúdico nos
dois pisos superiores do edifício que deveria ser construído com o fim de
albergar no rés-do-chão/cave a estação rodoviária de transporte de passageiros.
O facto de
as localizações serem facilmente identificáveis, para quem chega, constituiria
razão suficiente para o visitante se sentir seguro, em termos da alternativa a
um local de estacionamento mais próximo da frente de mar.
Fazia
sentido e a população entenderia, se fosse esclarecida, convenientemente, a
demolição do parque lúdico, porque na realidade trata-se de uma obra infeliz,
que não cumpre, minimamente, a sua função, não convence ninguém e, como tal,
devia dar lugar à estação rodoviária e parque de estacionamento com excelente
localização e sem a necessidade de indemnizar terceiros.
Pelo
contrário, a demolição do Edifício Albufeira resultava num esforço financeiro
elevadíssimo e representava muito do que pode servir para outros melhoramentos.
O Edifício
Albufeira poderá não enquadrar-se muito bem no espaço que é pretendido. No
entanto penso que com boa vontade dos técnicos podem ser encontradas as
soluções, para uma melhoria substancial da praça, dentro das condições
existentes o que seria mais sensato.
Nem sempre
os contrastes ficam mal e pode ser que com um simples arranjo de grades
metálicas para as sacadas do prédio, este passe a ter uma fisionomia melhor, em
termos do enquadramento que o técnico pretende para a praça. Os bons técnicos
reconhecem-se pela capacidade para darem a volta à situação e não pela maneira
fácil de mandar demolir.
Seria
incompreensível para a população de Albufeira e para o País, se a Polis
assumisse a responsabilidade da demolição do Edifício Albufeira, com os altos
custos financeiros que a mesma implicava, quando o Governo anuncia cortes na
despesa pública, e até nalguns investimentos, devido às dificuldades que todos
conhecemos.
Os
portugueses demonstraram pelo acto mais nobre da vida democrática que é o voto,
nos dois últimos sufrágios eleitorais, que querem gente séria à frente da coisa
pública e a gerirem os recursos da nação. É uma situação que deve ser
reflectida e respeitada a todos os níveis.
Penso que
estamos todos no mesmo país e devemos falar na mesma linguagem, caso contrário
corremos o risco de não nos entendermos.
Senhor
Presidente, Albufeira está numa fase de grande mudança, que é sempre desejável
quando a mesma resulta em benefícios, mas, também, existem riscos. Seria bom
que o programa Polis pudesse contribuir para o afastamento de alguns.
Neste
momento constrói-se em Albufeira uma Marina que desde há muito é desejada e que
também poderá ajudar a favorecer a imagem da terra, mas peca por tardia. Diria
mesmo que se este tipo de equipamento tivesse surgido há trinta anos, Albufeira
era diferente.
A Marina
tem como modelo de financiamento a construção imobiliária o que vai resultar
num aumento significativo da capacidade de oferta de alojamento turístico.
Teria a
CMA tido o cuidado de mandar elaborar estudo do impacto económico que a Marina
vai certamente ter em Albufeira?
Como será
do Vosso conhecimento, Albufeira quase que atinge os 100% de ocupação turística
no mês de Agosto, ficando-se ligeiramente abaixo no mês de Julho e nos outros
meses a oferta pode ser considerada excessiva. Não tenhamos ilusões, esta é a
realidade dos tempos que correm.
Pode-se
concluir que é imperioso um esforço conjunto em que a CMA terá que assumir a
sua quota de responsabilidade e mostrar-se interessada no debate de questões,
que vão deste a simples limpeza das ruas às autorizações para algumas
construções que, antes de estarem concluídas, já chocam pela sua volumetria e
implantação.
Terá de
ser analisado o tipo de animação e a forma como é levada a cabo, pensando nos
seus custos e tendo em conta que esta não deverá contrariar nem concorrer com
outros interesses económicos locais.
Deverá
haver uma reflexão séria e responsável sobre o apoio financeiro aos clubes do
concelho, tendo em conta os resultados desportivos e outros que estes
apresentam como contrapartidas.
Parece uma
grande mistura de temas, mas devo dizer que tudo isto, e muito mais, tem a ver
com a actividade turística e poderá servir para enriquecer o seu produto.
Trata-se
de um leque alargado de questões que me faz desde já propor a V.Exª. a criação
e promoção de colóquio anual, em período de estação baixa, onde seja possível o
debate da questão turística e suas envolventes.
Estou
certo que esta iniciativa seria de interesse para todos, que também se
sentiriam mais responsabilizados para colaborar, em vez de se estar sempre a
dizer que a culpa é do outro.
Para a CMA
esta seria a maneira mais directa de sondagem das opiniões e das necessidades
dos agentes económicos, com vista a desenvolver políticas para a resolução das
situações.
Se
queremos turismo temos que saber entendê-lo e criar as condições para que esta
área de actividade económica se desenvolva de maneira harmoniosa e sustentada.
Espero ser
entendido como alguém que não pretende que a Câmara se transforme em força de
bloqueio ao desenvolvimento e à construção em particular. Antes pelo contrário
esta deve facilitar o desenvolvimento correcto e os seus técnicos estarem
habilitados a aconselharem os agentes económicos.
Na sessão
de ontem à noite tive a oportunidade de verificar que o Senhor Presidente, nas
suas intervenções, demonstrou ser correcto, decidido e que tem facilidade na
observação e na resolução dos problemas. Estas são as condições que me
satisfazem, em termos do que poderá vir a ser acautelado, com benefício para
Albufeira, no âmbito do programa Polis.
Ficando
certo de que V.Exª. não deixará de dar a devida atenção às minhas questões e
pondo-me desde já à Vossa inteira disposição, subscrevo-me com estima e muita
consideração.
De V.Exª.,
Atenciosamente,
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