quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Carta ao Sr Presidente da CM Albufeira

Albufeira, 25 de Maio de 2002


Exmº.Senhor,
Presidente da Câmara Municipal de Albufeira
8200 ALBUFEIRA

    Como é do conhecimento de V.Exª., de acordo com a cópia que lhe enviei, apresentei duas sugestões à Soc.de Desenvolvimento do Programa Polis-Albufeira.
    Devo salientar que a minha ambição, em termos do desenvolvimento que considero necessário, para Albufeira afirmar a sua imagem nas áreas para que está vocacionada, não se esgota naquelas duas sugestões. De qualquer modo, foram as escolhidas em função das explicações prestadas por agente que demonstrou convicção na veracidade da proposta técnica existente.
    Senti que a mesma convicção não foi demonstrada, pelos técnicos da proposta, na sessão pública de ontem à noite, a que assisti.
    É certo que se trata de proposta técnica, numa fase de discussão pública, mas quando os seus autores não a defendem, capazmente, e, pelo contrário, deixam a ideia de que é tudo muito vago, fica-se com a noção de se estar perante uma brincadeira que, no caso concreto, tem a ver com o futuro de Albufeira e que envolve valores financeiros muito elevados.
    Assim, surgem dúvidas, por um lado da viabilidade de execução da proposta no caso de passar a projecto e merecer a aprovação da Assembleia Municipal, por outro lado dos resultados práticos caso venha a ser executada.
    Entendo que muito tem que ser feito em Albufeira, mas torna-se necessário avaliar as repercussões das medidas aplicadas, tanto em termos do que se pretende ou não preservar, como pelo efeito que estas produzem na sensibilidade do atingido.
    Já em 1994, em carta dirigida ao Senhor Governador Civil de Faro, eu dizia que a CMA não tinha tido o cuidado de evitar uma perda de atracção turística, com as transferências do mercado de frutas e hortaliças e mercado do peixe, dos locais onde se encontravam, para os Caliços.
    É lógico que a situação era insustentável mas também é verdade que em relação ao mercado da verdura poderiam ter sido mantidas três ou quatro bancadas bonitas para venda, durante o dia, de frutas de qualidade, flores, frutos secos da região, bolos de figo trabalhados, etc., que à noite seriam utilizadas para artesanato. A mesma situação poderia ter sido adoptada para o ex-mercado do peixe.

    Isto faz parte do produto turístico que temos, para apresentar aos visitantes, e que devemos preservar a todo o custo.
    Outra situação, é o corte do trânsito no centro da cidade, que também era inevitável e deverá ser mais alargado, mas também aqui deveriam ter havido, atempadamente, cuidados na execução de alguns projectos, com vista a não comprometer as hipóteses futuras de realizar obras que pudessem constituir alternativas às mudanças operadas. Estou a referir-me à execução do colector de águas pluviais, entre o Edifício Ribeira Park e o Eixo Viário, que no meu entender deveria ter sido ligado, ao existente, frente ao Edifício “Petit Paris”, tendo o seu percurso, pela estrada junto à encosta do Cerro do Malpique.
     Desta maneira, poderia, em todo o espaço, até à estação de combustível, ser construído parque de estacionamento subterrâneo e de superfície, com significativo numero de lugares, que funcionaria como o recepcionista dos visitantes, em vez da rotunda existente que, provavelmente, é entendida como o cartão vermelho, com ordem de expulsão, para quem nos quer visitar.
    É importante haver a consciência de que Albufeira é visitada por muitas pessoas, que não conhecem a terra, e que os cortes de trânsito, nalgumas zonas, que são compreensivos e até desejáveis, para quem conhece, implicam exactamente pelo desconhecimento de outros, em que muita gente tenha que fazer a manobra de retorno que, em termos da sensibilidade humana, desagrada.
    Todos os parques de estacionamento são necessários, independentemente da sua localização. No mínimo servem os habitantes da zona e até mesmo os visitantes, depois de estes passarem a conhecer melhor a terra. De qualquer maneira, três boas localizações que cumpririam com dignidade as funções de recepcionistas aos visitantes, seriam a nascente: terreno em frente à Repartição de Finanças, circundado pela estrada de acesso ao Cerro Malpique, ao centro: largo entre a estação de combustível e a rotunda da Avenida de Liberdade, depois de ser deslocado o referido colector de águas, a poente: no local do parque lúdico nos dois pisos superiores do edifício que deveria ser construído com o fim de albergar no rés-do-chão/cave a estação rodoviária de transporte de passageiros.
    O facto de as localizações serem facilmente identificáveis, para quem chega, constituiria razão suficiente para o visitante se sentir seguro, em termos da alternativa a um local de estacionamento mais próximo da frente de mar.
    Fazia sentido e a população entenderia, se fosse esclarecida, convenientemente, a demolição do parque lúdico, porque na realidade trata-se de uma obra infeliz, que não cumpre, minimamente, a sua função, não convence ninguém e, como tal, devia dar lugar à estação rodoviária e parque de estacionamento com excelente localização e sem a necessidade de indemnizar terceiros.

    Pelo contrário, a demolição do Edifício Albufeira resultava num esforço financeiro elevadíssimo e representava muito do que pode servir para outros melhoramentos.
    O Edifício Albufeira poderá não enquadrar-se muito bem no espaço que é pretendido. No entanto penso que com boa vontade dos técnicos podem ser encontradas as soluções, para uma melhoria substancial da praça, dentro das condições existentes o que seria mais sensato.
    Nem sempre os contrastes ficam mal e pode ser que com um simples arranjo de grades metálicas para as sacadas do prédio, este passe a ter uma fisionomia melhor, em termos do enquadramento que o técnico pretende para a praça. Os bons técnicos reconhecem-se pela capacidade para darem a volta à situação e não pela maneira fácil de mandar demolir.
    Seria incompreensível para a população de Albufeira e para o País, se a Polis assumisse a responsabilidade da demolição do Edifício Albufeira, com os altos custos financeiros que a mesma implicava, quando o Governo anuncia cortes na despesa pública, e até nalguns investimentos, devido às dificuldades que todos conhecemos.
    Os portugueses demonstraram pelo acto mais nobre da vida democrática que é o voto, nos dois últimos sufrágios eleitorais, que querem gente séria à frente da coisa pública e a gerirem os recursos da nação. É uma situação que deve ser reflectida e respeitada a todos os níveis.
    Penso que estamos todos no mesmo país e devemos falar na mesma linguagem, caso contrário corremos o risco de não nos entendermos.
    Senhor Presidente, Albufeira está numa fase de grande mudança, que é sempre desejável quando a mesma resulta em benefícios, mas, também, existem riscos. Seria bom que o programa Polis pudesse contribuir para o afastamento de alguns.
    Neste momento constrói-se em Albufeira uma Marina que desde há muito é desejada e que também poderá ajudar a favorecer a imagem da terra, mas peca por tardia. Diria mesmo que se este tipo de equipamento tivesse surgido há trinta anos, Albufeira era diferente.
    A Marina tem como modelo de financiamento a construção imobiliária o que vai resultar num aumento significativo da capacidade de oferta de alojamento turístico.
    Teria a CMA tido o cuidado de mandar elaborar estudo do impacto económico que a Marina vai certamente ter em Albufeira?
    Como será do Vosso conhecimento, Albufeira quase que atinge os 100% de ocupação turística no mês de Agosto, ficando-se ligeiramente abaixo no mês de Julho e nos outros meses a oferta pode ser considerada excessiva. Não tenhamos ilusões, esta é a realidade dos tempos que correm.
    Pode-se concluir que é imperioso um esforço conjunto em que a CMA terá que assumir a sua quota de responsabilidade e mostrar-se interessada no debate de questões, que vão deste a simples limpeza das ruas às autorizações para algumas construções que, antes de estarem concluídas, já chocam pela sua volumetria e implantação.

    Terá de ser analisado o tipo de animação e a forma como é levada a cabo, pensando nos seus custos e tendo em conta que esta não deverá contrariar nem concorrer com outros interesses económicos locais.
    Deverá haver uma reflexão séria e responsável sobre o apoio financeiro aos clubes do concelho, tendo em conta os resultados desportivos e outros que estes apresentam como contrapartidas.

    Parece uma grande mistura de temas, mas devo dizer que tudo isto, e muito mais, tem a ver com a actividade turística e poderá servir para enriquecer o seu produto.
    Trata-se de um leque alargado de questões que me faz desde já propor a V.Exª. a criação e promoção de colóquio anual, em período de estação baixa, onde seja possível o debate da questão turística e suas envolventes.
    Estou certo que esta iniciativa seria de interesse para todos, que também se sentiriam mais responsabilizados para colaborar, em vez de se estar sempre a dizer que a culpa é do outro.
    Para a CMA esta seria a maneira mais directa de sondagem das opiniões e das necessidades dos agentes económicos, com vista a desenvolver políticas para a resolução das situações.
    Se queremos turismo temos que saber entendê-lo e criar as condições para que esta área de actividade económica se desenvolva de maneira harmoniosa e sustentada.
    Espero ser entendido como alguém que não pretende que a Câmara se transforme em força de bloqueio ao desenvolvimento e à construção em particular. Antes pelo contrário esta deve facilitar o desenvolvimento correcto e os seus técnicos estarem habilitados a aconselharem os agentes económicos.
    Na sessão de ontem à noite tive a oportunidade de verificar que o Senhor Presidente, nas suas intervenções, demonstrou ser correcto, decidido e que tem facilidade na observação e na resolução dos problemas. Estas são as condições que me satisfazem, em termos do que poderá vir a ser acautelado, com benefício para Albufeira, no âmbito do programa Polis.
    Ficando certo de que V.Exª. não deixará de dar a devida atenção às minhas questões e pondo-me desde já à Vossa inteira disposição, subscrevo-me com estima e muita consideração.                                                                          

                                                                                                      
De V.Exª.,
Atenciosamente,

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Henrique Coelho





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