Jornal de Albufeira, Nov.2013
Governabilidade da Autarquia.
Concretizado o
acto eleitoral, com o País a virar rosa, a primeira preocupação, na sequência de
alertas anteriores, foi trazer para a ribalta o interesse de Unir a Família
Social Democrata do Concelho. Apesar de ignorado, o apelo é muito pertinente.
O que aconteceu
na Assembleia Municipal, imediatamente a seguir à tomada de posse do Senhor
Presidente da Câmara, foi a revelação das tendências, para alimentar quezílias
e violar fidelidades político-ideológicas. É lógico que tenha sido o PSD a
ganhar a presidência da Assembleia Municipal. Porém, os munícipes têm razões
para sentirem-se defraudados pelo facto das suas escolhas, nas urnas, serem
desvirtuadas e trocadas por posições políticas antagónicas.
Tendo em conta os
níveis da representatividade democrática nos órgãos, deliberativo e executivo,
a governabilidade da Autarquia não vai ser tarefa fácil. A menos que a força vencedora,
ainda, faça um esforço, para entender os resultados das eleições, e perceba quais
são os seus parceiros naturais, para estabelecer acordos.
De facto,
Albufeira precisa de mais e convém que a questão fique clara. Se esta rotina não
for devidamente explorada, pela via negocial, o Partido vencedor não poderá
declinar as responsabilidades, aos seus adversários políticos, no futuro, e arvorar-se
de vítima, por qualquer situação de ingovernabilidade.
O PSD Albufeira ganhou
a maioria dos órgãos, a que se candidatou, mas a contagem de votos não garantiu
a supremacia que os seus dirigentes estavam habituados. Os órgãos do Partido terão
feito a leitura do actual figurino e devem ter percebido que os tempos mudaram.
A abstenção parece não incomodar ninguém. Mas, só dos militantes e simpatizantes
social-democratas que não abdicaram de votar, foram muitos os que mostraram indignação
em relação ao défice da ética política, na estrutura partidária, e às suas repercussões
nos órgãos da Autarquia.
Os dirigentes mostraram-se
relativamente satisfeitos, com a vitória exígua, e não perceberam que é preciso
apaziguar o descontentamento, no seio social-democrata. Como se tornou evidente,
a estrutura partidária já estava fragilizada e o resultado só não foi pior,
porque os referidos indignados refugiaram-se, em campo neutro, à espera de atitudes
reconciliadoras. Se os dirigentes não entenderem o que está em causa e não
mostrarem vontade política, para desanuviar a obscuridade que conduziu a este desastre
eleitoral, o Partido pode ser mais penalizado no futuro.
A segunda força política,
mais votada, no concelho, apesar de laureada a nível nacional, recolheu menos votos,
comparativamente a 2009, e, no plano local, deixou cair as grandes expectativas
de poder. Antes de entrar na campanha eleitoral, propriamente dita, terá
pretendido disfarçar a sua identidade política, com uma organização de
marketing, para fazer novos amigos. Como força de oposição devia estar melhor
preparada. Apresentou-se a sufrágio, sem a legitimação de uma prática de contraditório
digna, aos olhos dos albufeirenses, e fez promessas irrealistas, a avaliar pelas
condições do resgate a que a Autarquia se candidatou. Ainda assim, reforçou a sua
posição e conquistou duas freguesias.
O Movimento VIVA
foi a grande revelação destas eleições autárquicas. Na primeira aparição, subiu
ao terceiro lugar do pódio e não pode ser confundido com uma qualquer
manifestação de “parentes pobres ou rejeitados da política”. Formalizou a
candidatura em tempo recorde, por si só, revelador da vontade colectiva de
mudança e, com escassez de meios, apresentou-se ao eleitorado.
A mensagem
passou e o VIVA foi sufragado por um lote notável de bons eleitores, na sua
maioria, de ascendência social-democrata. Evitou que a abstenção fosse mais encorpada.
E, com maior ou menor consciência da sua função política, travou a hecatombe eleitoral
que alguns auguravam para o Partido da anterior maioria, cujos dirigentes não
perceberam antes, nem depois.
Ao contrário do que
me parecia óbvio, o modo da aceitação do VIVA, em sede de negociação,
pós-eleições, não terá permitido, à Dra. Ana Vidigal, outra alternativa política
que não fosse reafirmar o repúdio do seu Movimento, a um passado controverso
que ainda teima em não dar sinais de mudança.
Apesar de não conhecer, suficientemente, a Dra. Ana
Vidigal, arriscar-me-ia a defini-la como: “social-democrata hábil, impulsionada
por uma dinâmica lógica de cidadania, com regras, que rejeita o caciquismo”.
Dos outros
factos relevantes, destas eleições, destaco os independentes da esquerda radical
que não viram razões para usar o voto útil e privilegiaram a coligação CDU. Mas,
logo, os seus eleitos socorreram o PSD na Assembleia Municipal. Esta bondade de
pureza ideológica e de consciência política merece um grande aplauso!
Desconheço o que
aconteceu ao CDS/PP-Albufeira, no período pré-eleitoral. Certo é que a força
política perdeu a oportunidade de reforçar a posição e saiu enfraquecida.
Quanto aos
M.I.J.A., podem não ter tido um bom arranque, mas terão merecido o respeito de
todos e devem continuar a protagonizar as suas reivindicações, nos momentos
oportunos.
O desfecho eleitoral
não me surpreendeu. Em Novembro de 2011 escrevi neste espaço: “Albufeira carece de grito de alerta que entoe,
civilizada e democraticamente, na política”. Os dirigentes partidários não
deram atenção -, mas os munícipes mostraram sabedoria e consciência política,
no momento oportuno. Agora, tem de haver bom senso, para corrigir erros do
passado, sem complexos. E, de acordo com a pertinência do apelo, é preciso preservar,
reabilitar, e rejuvenescer o entusiasmo ideológico, dominante no concelho, capaz
de gerar maiorias.
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