quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Governalibidade da autarquia

Jornal de Albufeira, Nov.2013           

    Governabilidade da Autarquia.

    Concretizado o acto eleitoral, com o País a virar rosa, a primeira preocupação, na sequência de alertas anteriores, foi trazer para a ribalta o interesse de Unir a Família Social Democrata do Concelho. Apesar de ignorado, o apelo é muito pertinente.
    O que aconteceu na Assembleia Municipal, imediatamente a seguir à tomada de posse do Senhor Presidente da Câmara, foi a revelação das tendências, para alimentar quezílias e violar fidelidades político-ideológicas. É lógico que tenha sido o PSD a ganhar a presidência da Assembleia Municipal. Porém, os munícipes têm razões para sentirem-se defraudados pelo facto das suas escolhas, nas urnas, serem desvirtuadas e trocadas por posições políticas antagónicas.
    Tendo em conta os níveis da representatividade democrática nos órgãos, deliberativo e executivo, a governabilidade da Autarquia não vai ser tarefa fácil. A menos que a força vencedora, ainda, faça um esforço, para entender os resultados das eleições, e perceba quais são os seus parceiros naturais, para estabelecer acordos.
    De facto, Albufeira precisa de mais e convém que a questão fique clara. Se esta rotina não for devidamente explorada, pela via negocial, o Partido vencedor não poderá declinar as responsabilidades, aos seus adversários políticos, no futuro, e arvorar-se de vítima, por qualquer situação de ingovernabilidade.
    O PSD Albufeira ganhou a maioria dos órgãos, a que se candidatou, mas a contagem de votos não garantiu a supremacia que os seus dirigentes estavam habituados. Os órgãos do Partido terão feito a leitura do actual figurino e devem ter percebido que os tempos mudaram. A abstenção parece não incomodar ninguém. Mas, só dos militantes e simpatizantes social-democratas que não abdicaram de votar, foram muitos os que mostraram indignação em relação ao défice da ética política, na estrutura partidária, e às suas repercussões nos órgãos da Autarquia.
    Os dirigentes mostraram-se relativamente satisfeitos, com a vitória exígua, e não perceberam que é preciso apaziguar o descontentamento, no seio social-democrata. Como se tornou evidente, a estrutura partidária já estava fragilizada e o resultado só não foi pior, porque os referidos indignados refugiaram-se, em campo neutro, à espera de atitudes reconciliadoras. Se os dirigentes não entenderem o que está em causa e não mostrarem vontade política, para desanuviar a obscuridade que conduziu a este desastre eleitoral, o Partido pode ser mais penalizado no futuro.
    A segunda força política, mais votada, no concelho, apesar de laureada a nível nacional, recolheu menos votos, comparativamente a 2009, e, no plano local, deixou cair as grandes expectativas de poder. Antes de entrar na campanha eleitoral, propriamente dita, terá pretendido disfarçar a sua identidade política, com uma organização de marketing, para fazer novos amigos. Como força de oposição devia estar melhor preparada. Apresentou-se a sufrágio, sem a legitimação de uma prática de contraditório digna, aos olhos dos albufeirenses, e fez promessas irrealistas, a avaliar pelas condições do resgate a que a Autarquia se candidatou. Ainda assim, reforçou a sua posição e conquistou duas freguesias.
    O Movimento VIVA foi a grande revelação destas eleições autárquicas. Na primeira aparição, subiu ao terceiro lugar do pódio e não pode ser confundido com uma qualquer manifestação de “parentes pobres ou rejeitados da política”. Formalizou a candidatura em tempo recorde, por si só, revelador da vontade colectiva de mudança e, com escassez de meios, apresentou-se ao eleitorado.
    A mensagem passou e o VIVA foi sufragado por um lote notável de bons eleitores, na sua maioria, de ascendência social-democrata. Evitou que a abstenção fosse mais encorpada. E, com maior ou menor consciência da sua função política, travou a hecatombe eleitoral que alguns auguravam para o Partido da anterior maioria, cujos dirigentes não perceberam antes, nem depois.
    Ao contrário do que me parecia óbvio, o modo da aceitação do VIVA, em sede de negociação, pós-eleições, não terá permitido, à Dra. Ana Vidigal, outra alternativa política que não fosse reafirmar o repúdio do seu Movimento, a um passado controverso que ainda teima em não dar sinais de mudança.
Apesar de não conhecer, suficientemente, a Dra. Ana Vidigal, arriscar-me-ia a defini-la como: “social-democrata hábil, impulsionada por uma dinâmica lógica de cidadania, com regras, que rejeita o caciquismo”.
    Dos outros factos relevantes, destas eleições, destaco os independentes da esquerda radical que não viram razões para usar o voto útil e privilegiaram a coligação CDU. Mas, logo, os seus eleitos socorreram o PSD na Assembleia Municipal. Esta bondade de pureza ideológica e de consciência política merece um grande aplauso!
    Desconheço o que aconteceu ao CDS/PP-Albufeira, no período pré-eleitoral. Certo é que a força política perdeu a oportunidade de reforçar a posição e saiu enfraquecida. 
    Quanto aos M.I.J.A., podem não ter tido um bom arranque, mas terão merecido o respeito de todos e devem continuar a protagonizar as suas reivindicações, nos momentos oportunos.
    O desfecho eleitoral não me surpreendeu. Em Novembro de 2011 escrevi neste espaço: “Albufeira carece de grito de alerta que entoe, civilizada e democraticamente, na política”. Os dirigentes partidários não deram atenção -, mas os munícipes mostraram sabedoria e consciência política, no momento oportuno. Agora, tem de haver bom senso, para corrigir erros do passado, sem complexos. E, de acordo com a pertinência do apelo, é preciso preservar, reabilitar, e rejuvenescer o entusiasmo ideológico, dominante no concelho, capaz de gerar maiorias. 


Henrique Coelho

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