Jornal Notícias de
Albufeira, Mai 2014
Momentos e Factos que Fazem História.
No plano
oficial, Portugal comemorou, há dias, o 40º aniversário da revolução dos cravos,
envolto de polémica entre a Assembleia da República e os Capitães de Abril,
enquanto o povo celebrava a data, ressentido com a austeridade. A seguir, o 1º.
de Maio voltou a pautar-se por confraternização ordeira e civilizada.
São momentos e
factos que fazem história.
A assistência financeira,
externa, que salvou Portugal da bancarrota, está prestes a terminar e não vai
haver programa cautelar, devido à desconfiança do lado gélido da Europa.
Esta União deixa
muito pouco a desejar, no que respeita a solidariedade espontânea, e há membros
que já se esqueceram dos problemas por que também passaram. Ainda assim, parece-me
bem este desenlace.
Contratualizar
cobertura de risco acarretava mais custos e estou em crer que o novo ciclo
político, para a Europa, vai trazer novidades. O problema da dívida não é
exclusivamente português e o protagonismo de outros países mais fortes, cujas contas
públicas, também, apresentam dificuldades, ainda, pode ajudar Portugal.
A bondade dos
indicadores contrasta com a realidade dos factos e a forma do Governo comunicar
as suas démarches, para resolver o imbróglio herdado em 2011, não tem sido
eficaz. Deste modo, o povo, deprimido e mal esclarecido, é permeável a boatos e
iniciativas inglórias. Estou a referir-me ao manifesto para reestruturar a
dívida que ganhou grande aceitação.
À primeira
vista, a ideia também me cativou. Mormente, no que respeita aos 78 mil milhões
do resgate contratualizado. Mas, quando ouvi o esclarecimento do Senhor Primeiro-Ministro,
no debate parlamentar de 4 de Abril, percebi que o referido manifesto não era
oportuno. Pelo que foi dito, não é possível alterar as regras contratualizadas,
com o FMI, e já foram renegociados os alargamentos; tanto dos períodos de
carência como dos prazos de maturidade, e respectivas taxas de juro, com as
Instituições Europeias. Nesta conformidade, qualquer tentativa para reestruturar
a dívida, nesta altura, demonstrava fraqueza e podia ser encarada como pedido
de perdão, o que constituiria sinal preocupante, para os credores externos.
O que o Governo pode
fazer, nesta matéria, é aproveitar as actuais condições dos mercados e, de
acordo com as disponibilidades, rolar o máximo de dívida cara para taxas de
juro menos onerosas e prazos mais dilatados.
O País continua
a ter dificuldades e o esforço, inerente, deve ser repartido com equidade. O
ajustamento tem de bater mais forte nos contratos milionários que beneficiaram
alguns privilegiados e os prevaricadores devem ser chamados a prestar contas,
para não ser, apenas, os mais fracos a arcarem com o prejuízo. E, ainda, falta
fazer a reforma do Estado.
De facto, o
futuro não se apresenta risonho. Todavia, a vida continua e é necessário promover
alento, para os portugueses levantarem a moral e se sentirem cidadãos úteis,
neste processo de mudança que era inevitável.
A globalização
trouxe uma dinâmica nova. Mas, o País não pode apostar, apenas, no investimento
externo que, nalguns casos, corre o risco de ser temporário, gera dependência, e
encoraja a transferência de grupos económicos, nacionais, para mãos
estrangeiras. Os chineses já iluminam Portugal e, certamente, têm a ambição de matar
a sede, aos portugueses, no curto prazo.
Reitero o que escrevi
neste espaço, em Julho de 2010 e Dezembro de 2011, quanto à necessidade do
Ministério da Economia liderar grupo de trabalho itinerante, multi-tutelado,
com a participação das direcções regionais e de outros parceiros, públicos e
privados, para fazer prospecção de potencialidades e fomentar o desenvolvimento
local e regional.
À semelhança dos
périplos, para atrair investidores externos e vender Portugal, lá fora, é
preciso que haja esforço de convergência e vontade política, para estimular as
capacidades domésticas e apostar numa estratégia de produção nacional. Não é descabido
afirmar que muitos dos produtos importados, à venda nos supermercados, podiam
ser produzidos, no nosso país, em quantidades suficientes, inclusivé, para engrossar
o fluxo das exportações.
Na defesa do interesse
económico, é importante que o Governo tenha a percepção exacta da realidade do
País, nomeadamente, para não aniquilar o pequeno comércio e dinamizar a produção
nacional.
Não obstando os
benefícios da formação, é óbvio que a logística dispendiosa para dar pedagogia
aos desempregados, na maioria dos casos inconsequente, não é sustentável para a
Segurança Social e retira verdade às estatísticas. Nestas condições, é urgente
substituir esta prática por outras iniciativas que tenham o mérito de criar
emprego contributivo.
Com mais empenho de todos, o crescimento da economia
podia puxar pelo PIB, combater o flagelo do desemprego, e atenuar o que já se vaticina
no aspecto demográfico.
Henrique Coelho
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