Dever
de Falar Claro
Cheia de Albufeira, 01Nov.2015
02/11/2015
O que aconteceu ontem, em Albufeira,
foi uma tragédia com danos materiais incalculáveis, felizmente sem vitimas a
lamentar. Muita força para todos os atingidos e uma palavra de reconhecimento
pelo esforço do Corpo de Bombeiros.
Não adianta apontar o dedo a
culpados, quando a natureza está em comando. A baixa da cidade tem dois
problemas incontornáveis. É a foz de uma ribeira que pode trazer surpresas, a
quem está no seu caminho, e o nível do oceano está a subir.
Veja o que publiquei no Jornal
Notícias de Albufeira, em Out. de 2014.
“O Tempo Acabará por Pintar um Quadro Irreversível”
“Se chover em Albufeira como choveu
em Lisboa e na Lourinhã, no passado dia 22 de Setembro, será uma calamidade
para a população e para o comércio do centro.
O avanço do mar já constitui um problema
para o litoral e as mudanças climáticas que se verificam acarretam risco ainda
maior, para Albufeira.
O desenvolvimento urbanístico
comprometeu a permeabilização dos solos e as águas pluviais encaminham-se para
a parte baixa da cidade que tem cada vez mais dificuldade em escoar para o mar.
A principal linha de água foi estrangulada
e o canal subterrâneo de descarga deixa dúvidas quanto à sua eficácia, numa
situação extrema.
Em vez deste canal, concebido há quase
cem anos, devia ter sido permitida a entrada do mar, pela Avenida 25 de Abril e
Rua Cândido dos Reis até ao ribeiro, actualmente, Avenida da Liberdade. E serem
projectados quebra mares, a nascente do Sol e Mar e a poente do Inatel,
respectivamente.
Apesar de o projecto sacrificar algum
casario, o Burgo teria ganho um lençol de água, nivelado pelo mar, com
capacidade para encaixar as enxurradas de eventuais chuvas intensas.
Hoje, Albufeira tinha uma marina de rara
beleza que engrandecia a marca turística e valorizava a sua economia.
As praias, Peneco e Inatel, tinham o
resguardo dos referidos quebra mares e o assoreamento natural garantia a sua defesa
contra a subida do mar.
Porém, à época do trabalho braçal,
Albufeira não tinha recursos.
Já no período das máquinas e da
tecnologia a apetência pelo investimento imobiliário visou, apenas, o lucro
imediato. A cidade não foi interpretada de forma séria e tanto os executivos camarários,
que se sucederam, como os senhores da Polis não deram contributo convincente.
O tempo acabará por pintar um quadro irreversível.
Dentro de duas ou três décadas, os prédios vão se degradar e, atendendo à
elevada carga fiscal, as famílias não terão capacidade financeira para as
devidas reparações. Por outro lado, a água da pluviosidade que atingir a Praça
dos Pescadores não será sumida por processo natural e as inundações vão ser uma
constante, mesmo que a rebentação do mar seja afastada, com trasfegas de areia”.
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