sexta-feira, 20 de novembro de 2015

CHEIA DE ALBUFEIRA

Dever de Falar Claro   

Cheia de Albufeira, 01Nov.2015

02/11/2015

O que aconteceu ontem, em Albufeira, foi uma tragédia com danos materiais incalculáveis, felizmente sem vitimas a lamentar. Muita força para todos os atingidos e uma palavra de reconhecimento pelo esforço do Corpo de Bombeiros.

Não adianta apontar o dedo a culpados, quando a natureza está em comando. A baixa da cidade tem dois problemas incontornáveis. É a foz de uma ribeira que pode trazer surpresas, a quem está no seu caminho, e o nível do oceano está a subir.

Veja o que publiquei no Jornal Notícias de Albufeira, em Out. de 2014.

“O Tempo Acabará por Pintar um Quadro Irreversível”


“Se chover em Albufeira como choveu em Lisboa e na Lourinhã, no passado dia 22 de Setembro, será uma calamidade para a população e para o comércio do centro.

O avanço do mar já constitui um problema para o litoral e as mudanças climáticas que se verificam acarretam risco ainda maior, para Albufeira.

O desenvolvimento urbanístico comprometeu a permeabilização dos solos e as águas pluviais encaminham-se para a parte baixa da cidade que tem cada vez mais dificuldade em escoar para o mar.

A principal linha de água foi estrangulada e o canal subterrâneo de descarga deixa dúvidas quanto à sua eficácia, numa situação extrema.

Em vez deste canal, concebido há quase cem anos, devia ter sido permitida a entrada do mar, pela Avenida 25 de Abril e Rua Cândido dos Reis até ao ribeiro, actualmente, Avenida da Liberdade. E serem projectados quebra mares, a nascente do Sol e Mar e a poente do Inatel, respectivamente.

Apesar de o projecto sacrificar algum casario, o Burgo teria ganho um lençol de água, nivelado pelo mar, com capacidade para encaixar as enxurradas de eventuais chuvas intensas.

Hoje, Albufeira tinha uma marina de rara beleza que engrandecia a marca turística e valorizava a sua economia.

As praias, Peneco e Inatel, tinham o resguardo dos referidos quebra mares e o assoreamento natural garantia a sua defesa contra a subida do mar.

Porém, à época do trabalho braçal, Albufeira não tinha recursos.

Já no período das máquinas e da tecnologia a apetência pelo investimento imobiliário visou, apenas, o lucro imediato. A cidade não foi interpretada de forma séria e tanto os executivos camarários, que se sucederam, como os senhores da Polis não deram contributo convincente.

O tempo acabará por pintar um quadro irreversível. Dentro de duas ou três décadas, os prédios vão se degradar e, atendendo à elevada carga fiscal, as famílias não terão capacidade financeira para as devidas reparações. Por outro lado, a água da pluviosidade que atingir a Praça dos Pescadores não será sumida por processo natural e as inundações vão ser uma constante, mesmo que a rebentação do mar seja afastada, com trasfegas de areia”.    



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